sábado, 24 de setembro de 2016

Filha, aí não!!! É para ser professor

Essa semana houve a mostra de profissões da UEM. Aquelas feiras para alunos indecisos descobrirem o que realmente querem fazer de suas vidas. Nada mais que várias salas com universitários dando informações sobre os cursos que fazem e a vender o peixe de sua área de formação.

Uma muvuca que me fez lembrar os infernais anos que dei aula no ensino médio. Aqueles adolescentes suados, achando que são donos do mundo e que têm a razão de Descartes. Entendo porque Raul Pompeia ateia fogo no Ateneu ao final do romance. 

Mas todos deveriam temer o cronista. Não existe ser mais sorrateiro que essa figura com o teclado sob seus dedos. Além de ser um observador indiscreto do comportamento humano, está onde menos se imagina. No ralo do banheiro, naquela selfie indesejada, na conversa do casal em voz baixa, que finge idílio enquanto discute a relação. É um observador nato e como uma Miss Marple, os casos caem em seu colo. 

Ao sair da sala que ficou para os cursos de Letras e História, presencio um fato memorável. Uma família feliz. Pai companheiro, que acompanha os filhos e mais que eles, a filha, na árdua estrada da escolha profissional. Um sujeito baixinho, atarracado, daqueles que usam bermuda jeans, sandálias, camiseta branca de gola polo e a cereja do bolo: o óculos Ray Ban como uma tiara a adornar a testa que a cada ano fica mais proeminente. 

Atitude protetora, o sujeito anda com a filha de mãos dadas. Dizem que o homem devem andar do lado da rua e deixar a calçada para a mulher, uma forma de proteção, uma etiqueta a se respeitar. Tal como na rua, o pai, exercendo a força do macho, que lhe coube ao nascer, fica ao lado das salas de aula e deixa o lado oposto do pátio à filha. Escolhe a dedo a sala que a filha deve entrar, pois em cada espaço se desenha uma possibilidade de futuro, que vai do cor-de-rosa, ao mais negro dos cenários.

Coube a mim o lado negro da força. Então, ao sair da sala vejo um leve puxão protetor do macho alfa cuidando da família. Estufou peito, encolheu a barriga, resultado de anos de uma cervejinha, que todo pai de família merece ao final da tarde, e soltou a expressão quase de horror: "Aí não, filha!! É para ser professor. 

Pois, é!! Se a situação era difícil, em tempos de Temer, temer a educação é uma sinal de inteligência, é a certeza de que ao ter escolhido qualquer outra profissão o sujeito sente o alívio de não ter caído em desgraça. 

Hoje a crônica, não podia ser outra. Na atual situação do país, sorrir é difícil, rir, então, quase um milagre. Resta-nos ter um presidente que o nome é uma piada pronta. Quem não teme Temer? Temer é sinal de inteligência. Porque enquanto o malvado favorito, com sua mãozinha de ilusionista não parar, só podemos temer o futuro da educação, temer o futuro do país, que mergulha a cada dia em um enorme mar de incertezas. Professores, temam, Temer vem aí e vai pegar você!!! Pior, não é uma cantiga para assustar criancinhas mal-educadas nem a versão do Tropa de Elite: Temer pega mil, pega geral e vai pegar você!!! Perdeu, perdeu....

  A poesia é essa água que escorre pela boca e d esce pelas bordas  rompendo a barreira dos lábios. Diz e não diz f abula mundos intangív...