sexta-feira, 9 de setembro de 2016

BICICLETA

Trago comigo um caderno
de ilusões e sonhos amarelado,
escrito em horas de júbilo
quando as bicicletas
eram um sonho longíquo
a rodar pelas ruas do bairro.

Reconheço que as bicicletas
de pedal, selim e raias brilhantes 
pertencem ao passado;
foram banidas da poeira do quintal 
e dos sonhos exiladas como pesadelos.

Também aprendi a rasgar as páginas
com os desejos realizados,
mas a maioria delas trazia vestígios
do último sussurro da desilusão
de alguém que desperdiçou o tempo
com a mania dos entulhos.

Tive várias bicicletas na vida,
nunca as deixei de ter 
[agora reconheço].
Algumas logo ficaram esquecidas,
outras viraram relíquias no quarto;
mas, aquelas de paradeiro incerto
daria tudo para com elas desfrutar
do vento que acariciava o rosto
enquanto sonhava que era rei,
dominava o mundo sobre rodas
e meu universo era o quarteirão
onde ficava minha casa.

Jamais esquecerei no filme
projetado no quarto escuro
de minhas longas memórias
a dor que as bicicletas me causaram.
Correia, coroa e catracas
nunca doeram tanto nos seus giros.

Se pudesse, hoje, reduziria a velocidade
das pedaladas 
e em câmera lenta me demoraria
[no breve instante da contemplação]
a passar os olhos em páginas esquecidas
e em velhas anotações para sempre perdidas.


  A poesia é essa água que escorre pela boca e d esce pelas bordas  rompendo a barreira dos lábios. Diz e não diz f abula mundos intangív...