A menina canta
em pé, no ônibus.
A menina canta
não percebe o calor
nem transita pelos olhares.
Com os fones de ouvido
a menina canta
crucificada na coluna,
agarrada às barras do coletivo
equilibra-se numa nau estranha.
A menina canta uma cantiga
quase muda, seus lábios
mexem ao som de uma melodia.
A menina canta despercebida
de sua marca de mulher
alheia à fenda que
lhe abrirão no corpo
que inaugurará seu abismo
e sua derrocada da cruz
onde canta feliz, crucificada
às barras do coletivo.
E o Cristo, do alto do Corcovado,
nem espreita, alheio à marca
de mulher que começa a se desenhar
nessa via crucis da inocência
que se equilibra em um coletivo
a 60km nas ruas de Botafogo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário