Quando bebi tuas lágrimas
não sabia que tragava com elas
tua alma, teu corpo, teus olhos,
que choravam aquela partida inevitável
contra todos os prognósticos da razão.
Ainda não compreendo bem
aquela noite, mas em teus braços
soube o amor e a vida necessários
para planos e sonhos de um futuro.
Não era possível, não podia ser possível
encontrar assim um amor
no meio do caminho e ter de deixá-lo.
Aferrei-me aos teus braços
como o náufrago que sabe ser o mar
grande demais para se sobreviver à deriva.
Ainda lembro, é inevitável a lembrança
de um tempo que nunca desejei se acabasse.
Quis romper os ponteiros, quebrar os segundos,
despedaçar os mostradores que anunciavam
o fim daquele abraço.
Abria um abismo em mim
e as horas me massacravam
torturavam meus ossos, aumentando dias
e meses de uma ausência que ainda julgo
uma trapaça do destino.
Pagaria meus pecados, faria novenas,
rezaria missas, iria ao candomblé
e falaria com os espíritos se soubesse
da dolorosa partida.
Tudo eu faria
[se cego o amor não me deixasse]
para não ter perdido um momento
da luz azul de teus olhos.
Neles vi o céu, enquanto as pontas
dos dedos escorregavam despercebidas
obrigando-me a partir sem rumo,
sem planos, somente viagem e bagagem.
Riam os críticos amargos em sua solidão,
chorem escondidos os que amam,
mas infelizes
são aqueles a quem nunca do amor
puderam ao menos experimentar
a dor da partida.
Reclamem das rimas,
da falta de sonoridade
da ausência de metáforas,
do tema inadequado;
essas são preocupações de quem não ama,
porque quem ama de nada servem
os bibelôs das aliterações vazias.
Esse é um grito de amor de dor e solidão
é um grito de desespero, um apelo
aos que viram e aos que não viram
aos que amaram e aos que não amaram,
porque quem ama
apela para tudo quanto é santo
faz simpatias, despachos, promessas,
quando a razão desaparece e resta
do amor só a dor de quem espera
por ele mesmo, o Amor,
essa tábua de salvação
para aqueles que acham ser a vida
sem graça demais longe da mão
de quem tem o poder
de nos suspender no caminho da vida,
dando a ilusão de que jamais
estaremos sós novamente
e que para a curva no caminho
nunca mais precisaremos lançar
o olhar em triste despedida.
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