Quando vou respirar um ar mais leve na vida?
Quando perceberei que o chumbo dos dias
é mera perspectiva que adoto diante
das inevitabilidades do cotidiano?
Cabe a mim saber o peso do ar que respiro,
abrir as janelas que estão fechadas
soltar o ar denso e podre dos pensamentos
que se acumulam no canto da mente.
O ar pode corroer, quando nos damos conta
ele acabou com as veias, com o pulmão,
secou as mãos e os lábios perderam o viço.
Peso o ar, sinto sua densidade, sua aspereza
e nele contemplo os dias lixando
minha materialidade, desgastando o verniz
que longamente lustrei ao longo dos anos.
Preciso filtrar o ar e com ele os dias
saber o que vale a pena
o que deixou a alma pequena
e reduziu o horizonte de meus olhos.
Quanto pode pesar o ar? Quanto deve pesar o ar?
O oxigênio tão necessário à vida
cobra seu peso em gramas, quilos, toneladas,
mas como pagamos aos poucos,
não percebemos que ele nos leva a casa e a vida.
Quanto pesa o ar, que derruba as folhas das árvores,
que vinca nossa pele como um bicho geográfico
que traz a poeira, que suja as narinas com a poluição
dos escapamentos dos carros e das indústrias?
Quanto pesa o ar, capaz de derrubar nosso semblante
marcar o rosto e as mãos?
Quanto pesa o ar que deixa o corpo lento
e faz a marcha dos dias se arrastar ao som
do tic tac incessante das horas?
Quanto pesa o ar?
Enquanto não me respondem,
enquanto alguém não me responde,
vou respirando esse ar, sentindo sua densidade
seu peso cobrado ao longo dos anos.
Meto a mão no bolso e não tenho com o que pagar.
Pago com o corpo o ar que respiro
e seu peso vai aliviando o meu peso,
fazendo com o que desça à terra
não seja mais que o leve peso de uma pluma
a desenhar no ar o último voo aprisionado
de quem sempre quis ter os pés no chão.
quinta-feira, 22 de novembro de 2018
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