Eu hoje me calo porque as orações são mudas.
O tempo das imprecações cessou
e só resta o triste e doloroso choro
daqueles que sabem enterrar seus mortos.
Catemos os cacos, colemos as xícaras de porcelana
para tomarmos o quente café ralo
vendo os trabalhadores, meio gado meio gente,
sombra do que restou da sua humanidade,
arrastarem seus sonhos, tendo colado às costas
os estômagos com fome de pasto e saber.
Caminharemos sombrios, taciturnos, rodeados
de uma nuvem negra de olhos
que zumbem como abelhas
mas, do mel em nossas
bocas,
só teremos o gosto agudo
da ferroada a inchar os lábios balbuciantes.
Tristes sentaremos em frente à TV,
e alimentaremos sonhos de liberdade hollywoodiana.
Dançarinos desengonçados que somos
tentaremos sapatear o último sucesso de La la land
enquanto o samba bate no couro de nossas nádegas,
lembrando que é carnaval e precisamos sorrir
na marquês de
Sapucaí ao som dos tambores
que regem nossas vidas.
Chorar para quê, aqui é o Brasil
e o bispo Sardinha foi
devorado
pelos supostos canibais de Colombo e companhia.
É hora de partir,
às dezoito horas os sinos
chamarão os
crentes à oração
e todos estarão mudos com uma vela
a queimar entre os dedos das mãos
É preciso orar, é preciso rezar,
nunca se sabe quando o noivo voltará
e àqueles que sem lume estiverem cochilando
não será dado nem pão, nem batata,
nem um copo de leite morno,
antes de serem atirados para fora,
onde há choro e ranger de
dentes.
É tempo de orações,
é tempo de gente muda,
sem graça e sem
dentes
para sorrir ao sol quando ele voltar.
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