quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Uma flor


Pensei em escrever algo
mas o que dizer em tempos
nos quais as palavras são insuficientes
em tempos surdos à razão
em tempos de intolerância.
Resolvi mandar uma flor
uma flor amarela
isolada no espaço urbano
dos transeuntes apressados
em seus delírios de morte.
Uma flor porque as palavras
não podem expressar
a mínima solidariedade humana.
Em um tempo mudo, cego,
as palavras são (in)dispensáveis.
Vivemos o tempo de pedras e paus
falar pode ser uma abstração
exageradamente humana.
Então, mando uma flor amarela
sem filtros ou luzes,
despudoradamente limpa
em seu protesto de nudez e de obscenidade.
Sim, porque a beleza é obscena
e a nudez da realidade crua demais
para quem com os olhos da censura
vê o mundo em uma tela escura.


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