sábado, 20 de outubro de 2018

Gente indigesta

Hoje acordei com vontade de me livrar de gente indigesta. Pessoas que se acham os melhores do mundo, que vivem como se precisássemos delas vinte e quatro horas e que estaremos disponíveis ao estalar de dedos.

Fiz uma limpa no meu whatsapp, apaguei alguns contatos, bloqueei outros e iniciei o lento processo de desprendimento e apagamento dessas pessoas. Aos poucos elas virarão pó, sombra e nada. Nem nomes serão, pois aos poucos me esquecerei dos nomes, dos rostos e de suas breves importâncias, que deixo aqui meu muito obrigado.

É um exercício, um exorcismo necessário para se viver bem. Cada um escolhe seus amigos e sabemos quando fomos deixados de lado. O mundo é vasto e cheio de pessoas, novos amigos, sinceros amigos que nos querem estender as mãos e realmente compartilhar bons dias, boas tardes e boas noites.

Feio é ficar com pessoas nos seus contatos que de nada servem. Se são pessoas com quem temos de trabalhar, basta usar os meios formais de convivência, do cinismo diário necessário a ocupar o mesmo espaço e os meios formais de comunicação, dentro das formalidades dos e-mails institucionais.

Este texto é a última lembrança delas, é a última referência a esses tristes fantasmas infelizes que deixo no caminho. Sei que ainda terei de me encontrar fisicamente com esses seres, com esses vultos num futuro breve, mas serão apenas corpos desprovidos de sentido, de alma, de vida ou sentido.

Dispenso o luto ou os velórios, cremei-os na cinza das horas, na liberdade de ver o sol nascer e se pôr belamente todos os dias. Há vários meios de morte ou de se matar alguém. Assim, mato esses fantasmas, gente sem nome, sem face, sem caráter, neste texto. É o meu adeus a eles, não minha morte, nem minha despedida. Mas sim, a morte deles que decreto e como os braços do coveiro que movem a pá no cemitério, jogo sobre eles a última pá de cal. 

Viver é deixar para trás uma série de corpos que mais nada significam e se eu me lembrar deles, meus amigos, meus inimigos, como dizia Bandeira, aqueles que ainda restam, lembrem-me de que eu nunca costumo visitar cemitérios, afinal, lá encontram-se apenas os ossos daquilo que fomos um dia.

Esse é o meu adeus, enterro-os no texto e abro as portas para novos amigos, para pessoas que valem a pena conhecer, viver e preencher os espaços que agora ficaram livres. Sejam bem-vindos, novos amigos, para vocês há espaço na mesa, uma boa taça de vinho e um mundo para contemplarmos livre das cadeias das formalidades burocráticas de um cotidiano miserável.


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