Desajeitado corvo
teus passos de pato
e tuas asas negras de luto
guardam segredos
de quem aprendeu a voar
porque andar era difícil.
O pouso ainda é desajeitado,
aos saltos, tendo de abrir as asas
para reduzir o impacto
sobre as finas pernas de graveto.
Corvo grotesco, és belo e medonho
na tua falta de charme,
és obsceno
como um velho despudorado
a quem o tempo deu a liberdade
de deixar sobre o criado-mudo
as máscaras da dissimulada cortesia.
Enquanto as criancinhas alimentam os pombos,
os corvos recolhem ao rés-do-chão
as quinquilharias de um universo
esmagado pela indiferença
dos humanos pés calçados.
Corvo obsceno e despudorado,
irmano-me contigo em solidariedade
de quem sabe que o chão
é o princípio e o fim de todas as coisas.
quarta-feira, 5 de setembro de 2018
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