Aqui na França, pelo menos em
Lyon, Auvergne-Rhône-Alpes, tem um desodorante chamado Cien em todos os mercados. Não custa mais que um euro e é
cheirosinho. Supre as necessidades diárias de alguém que sue, pegue um tramway,
um metrô ou um bus. Baratinho e bom, nem precisa de promoção. O Rexona, Dove ou
Axe em promoção no Carrefour custam em torno de 3 euros. Ah...e antes que
digam: é espanhol, já adianto minha pesquisa feita no Google maps, é feito em
Stolberg e não é na Espanha.
Não quero, porém, me perder em
preços e em mapas que nada provam. Após o banho, benditas as águas que nos
levam às reflexões, resolvi ler o rótulo e vi “parfum vitalisant”, dura 24
horas. Confesso que nunca entendi bem isso. O Axe, Rexona, Dove ou Nívea Man,
dizem que duram por 48 horas. Chego a ter medo só de imaginar que alguém possa
ficar 48 horas sem banho, só na base do “tchitchi” do aerossol. Mas, vá lá, há
pessoas e pessoas pelo mundo.
Neste momento, deu aquele estalo,
as portas do passado se abriram na memória e me lembrei da época em que eu
assistia aos Trapalhões na Globo aos domingos. Aquele original ainda, com Didi,
Dedé, Mussum e Zacarias. Nos intervalos havia propagandas de diversos produtos.
Uma delas era de Xuxa nova e pernuda, que vivia passando o creme hidratante da
Monange, que acredito eu, ela corria tirar aquilo do corpo após a gravação.
Ainda não entendo como minha mãe e minhas tias usavam aquilo. Um dia cheirei o
creme e quase tive um desmaio, creme para afastar qualquer love à noite.
Havia também as propagandas que
me interessavam. Já que a Xuxa era a rainha dos baixinhos e vê-la naquela
posição sensual, às 19h00, dava a sensação de estar espiando minha mãe e não
tenho vocação para relações incestuosas.
Lembro-me das propagandas dos
desodorantes masculinos. Pensava comigo: Ah...quando eu começar a trabalhar vou
ao mercado comprar um desses. Tomar um banho, ficar cheiroso e sair para ver as
meninas que giravam feito carrossel em volta da pequena praça de Palmital.
Uma das propagandas me chamava a
atenção e anos mais tarde virou motivo de piadas dos rapazes de minha geração
nas mesas de bar: “Avanço, você passa e elas avançam”. Lembro bem do slogan e
tinha um Vitor Fasano que passava o perfume e sem camisa, na posição clássica
do macho alfa da época, se apoiava com o braço no batente da porta, tendo uma
bela fêmea que vinha ser acolhida debaixo de seu braço. Anos depois, já maior,
passei aquilo nas axilas e Gzuis dos pobres moços, aquilo só poderia atrair as moscas.
Também com aquele tubo marrom e preto e com as letras garrafais escrito
“Avanço” não podia ser lá aquelas coisas. Mais uma ilusão da infância pelo ralo
ou pelas axilas, porque como coçava aquilo.
Tive outras decepções na vida.
Havia outra propaganda mais imponente. Très de Marchand, tubo verde, com duas
espadas cruzadas, ao modo de um filme de espadachim. Pensei, este deve ser bom
e nos meus primeiros salários de entregador de jornal, nas pequenas madrugadas
palmitalense, e de servente pedreiro ao longo do dia, ao final de semana, com o
cheque em mãos fui ao supermercado com minha mãe. Mais um homem em casa, o
salário da semana ia para comprar o alimento que nos ajudaria a sobreviver.
Estávamos melhor nesta época, juntávamos o salário de meu irmão e o meu e vinha
uma compra razoável, sobrando para eu comprar, então, meu sonhado perfume da
propaganda do intervalo dos Trapalhões.
Eu sabia até onde era a
prateleira em que ficava o imponente “Très de Marchand”. Sem titubear apanhei-o
avidamente antes que outra necessidade surgisse eu o atirei no pequeno carrinho
de compras. Na época não tinha essas coisas de aerosol, os tubos de perfume
eram de plástico e tinha um canudinho interno que levam à tampinha com um
pequeno furo que servia para, literalmente, esguichar o perfume nas axilas e, é
claro, pelo peito, pescoço e onde mais julgasse necessário para ficar cheiroso,
não tinha esse negócio de 15 cm longe das axilas e, em caso de irritação,
suspenda o uso.
Era sábado, à noitinha tomei meu
banho penteei meus cabelos e antes de enfiar a camiseta por dentro da calça e
apertar o cinto para parecer um homenzinho, esguichei o poderoso Très de
Marchand”. Que decepção! Era pior que o Avanço, cheiro forte, daqueles de dar
dor de cabeça. Como sairia de casa com
aquele cheiro? Quase chorei; emburrei e fui ver a Globo, na nossa TV ainda em
preto e branco. Para piorar, o luxo de um novo desodorante só seria permitido
no mês seguinte. Não me lembro bem, mas acho que parei de ver os Trapalhões,
pelo menos na hora das propagandas.
Como no mundo não há mal que dure
para sempre, alguns anos mais tarde fui salvo pelo Axe, Axe Native, ainda me
lembro o nome. Parecia perfume e eu podia usar sempre. Já ganhava mais e se o
tubo acabava em quinze dias eu comprava outro. Às vezes na compra eu já trazia
dois. Porém, não há bem que dure a vida toda também, a empresa tirou a
fragrância de linha. Percorri supermercados, farmácias de amigos, comprei o que
havia de resto no estoque e usava menos para durar mais, sabendo que em breve o
cheiro do Axe Native seria apenas uma lembrança.
Tudo bem, anos depois eu usava
Yves Saint Laurent, Bylgari, Dior, Paco Rabanne, mas guardo na memória ainda os
primeiros desodorantes e suas decepções, que só não são maiores porque há pouco
surgiu uma propaganda que me faz rir sempre e pensar quais os garotos cairão na
mesma armadilha que eu um dia caí. Old Spice, o único “carregado com partículas
de cabra macho”. Opa, peraí, que história é essa. Vou passar um Old Spice e ter
partículas de macho percorrendo meu corpo o dia todo? Não, muito obrigado. Acho
que a própria empresa percebeu a mancada e substituiu o amado Malvino Salvador
das moçoilas pelo pai do Cris, do “Todo mundo Odeia o Cris”, o ator até tem
nome, mas depois de ser o pai do Cris, ele sempre ficará em nossa memória. Pelo
menos, a propaganda é bem-humorada e acredito, em breve, falirá a empresa ou
ela retirará o produto do mercado.
Ah e antes que alguma empresa
resolva processar o pobre consumidor aqui, já adianto: não tenho dinheiro no
banco, não tenho carro e nem moto. Então, se quiserem, podem penhorar minhas
axilas, elas foram bastante maltratadas ao longo da vida.
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