terça-feira, 28 de abril de 2015

Não, não estão em teus olhos
a paixão que em mim acende
no coração as duras chamas do sofrer.
Estão em meus olhos a paixão
que a ti atribuo em tão forte
responsabilidade que passas a carregar
o sentimento que em mim brota.
Nada mais egoísta que a paixão,
culpa dos olhos alheios o Amor
que pensa sentir no Outro
se em meus olhos mesmo é
o princípio e o fim do Amor
que deveras teus olhos inspira em meu viver.


domingo, 26 de abril de 2015

Nunca compreendi as pessoas
tampouco me compreendo.
Creio ser isso sinal de humanidade
que nos irmana aos demais homens,
falhos, pecadores, imperfeitos.
Nessas engrenagens quebradas
acabei me enroscando em ti.
A tua falha foi minha salvação.
Encaixei-me no teu erro
na tua fenda, no teu vazio.
Completei-me, dei-te a mão
e erramos juntos pelo caminho;
fomos mais humanos, homem
e mulher nas errâncias eternas.
Princípio e fim da humanidade
encerrados em nossos corpos.

sábado, 25 de abril de 2015

Ainda não posso partir

Eu que te esperei tão longamente
não pude furtar-me à pergunta - 
ela cresceu e se fez maior do que eu -
Por que vieste assim sem avisar?
Eu não estava pronto para esse encontro
tão certo, tão anelado nos amanheceres.
Peço que voltes outro dia!
Onde já se viu chegar desse modo
tão fora de hora, mesmo sendo esperada!??
Ainda não estou pronto, era cedo, eu não percebia;
sejas mais educada e menos abusada em teus surgimentos.
Peço que te retires e não pleiteies comigo.
Reclames com o Criador que me fez assim
tão contraditório tão avesso às razões iniludíveis.


Poemas-pérolas, que beleza!
Pérolas-corpos, que riqueza!
Porcos-poemas, amo sua sujidade!
corpos-porcos, deixem essa vaidade!
Não atire poemas aos porcos
não atire pérolas ao corpos,
atire corpos às perolas
e pérolas aos porcos
atire poemas aos corpos!
Essas materialidades nuas,
poema-corpo, poema-porco
poema-pérola, pérola-porco.
Poema, luxo para os porcos
que sempre esperam as pérolas.


domingo, 19 de abril de 2015

Tengo este rostro aindiado
que los siglos no lograron borrar.
Esta piel de bronce
herencia de mi abuela
señal de la raza presumida
odiada y disfrutada por el colonizador.
Tengo estos ojos chicos y oscuros
de larga oscuridad y ajenos abismos
que miran hacia la nada
delante del horizonte que se
desdibuja al caer de la noche
anunciada por el canto de las aves
nocturnas en sus interminables agüeros.
Tengo estas manos suaves que tejen
destinos en el aire siguiendo el humo.
Pero hubo momentos que estas manos
se hicieron gruesas de resistencia
para que mi sangre no desapareciera
en otros siglos de oscuridad desmemoriada.


quinta-feira, 16 de abril de 2015


A menina em suas inocências
se encantou com o hibisco rosa
porque ele parecia um cata-vento
nas mãos da árvore.
Colheu a flor e a girava entre os dedos
feliz de ver os giros rosas.
Adormeceu debaixo da árvore e
quando acordou, seu cata-vento murchara
e a menina derramou sua primeira lágrima
pelo amor que a abandonou e não velou seu sono.
Doeu essa partida, assim sem despedidas
e a cada amor que partia, chorava de novo o hibisco.

O meu eu está apegado em mim
nem no poema posso ser outro.
Não consigo sonhar além de mim
sou simplesmente eu, eu-lírico
de uma face só, máscara única
sinal de escravidão, marca de fugido.
As palavras me denunciam, têm minha face,
nem nos versos posso esconder-me.
Os versos são meu espelho,
inevitavelmente eles refletem a mim,
duro, vazio, frio, homem mineral
cioso de minha imagem que 
só poder ser polida no espelho das palavras.

Queria ser como Manoel de Barros
contentar-me com o voo das borboletas
mas nasci com a síndrome das alturas.
Insisto em queimar as asas de cera
ao calor do sol, vendo os sonhos derreterem.
Felizes são os pássaros, que podendo voar tão alto
fazem seus ninhos nas árvores
para que nós homens
possamos contemplar
as simplicidade singela
de suas casas,
onde guardam aquecidos
os frutos de seu amor.


Não chorei no ventre de minha mãe.
Quem chora estando no aconchego
de entranhas tão cálidas?
Chorei quando vim ao mundo
quando o vi com os meus olhos
e soube que sempre estaria só.
Nasci homem, jamais serei os olhos
de um ser frágil e em formação,
jamais guardarei em mim o ser
que em meses se forma no ventre feminino.
Sou expectador de uma barriga que se dilata
globo enorme de uma vida satisfeita
que logo chorará como eu chorei,
pois na comunhão de nossos olhos
saberá que também está só, que a mão
que lhe estendo é breve companhia
dos seres solitários que choram juntos
a desventura da vida em suas jornadas.

Das poucas raras boas intenções do homem
desconfio de todas, sem exceção.
Da mão estendida, ainda te cobrarão
os cinco dedos em punho fechado.
Mas lido com o homem todos os dias,
com o homem que enfrento no espelho
com o meu eu igual, vazio, reflexo de mim
que me irmana a outros homens
também de punhos cerrados.
Desconfiados como eu, desse mundo homem
tão humano em seus erros, tão constante
em seus doces desacertos, insistentes,
frequentes que nos lembram não ser deuses,
mas só carne, osso, barro, pó, poeira cósmica.


Preciso da calma serena das flores
a irritação me consome em segundos
desgasta meus dias e minhas entranhas;
pedra engastada, encaixada nas dores,
casa de perturbações e delírios.
O coração se agita fácil
difícil acalmá-lo, fazer-me dono de mim.
Recuperar das batidas o ritmo sereno
ameno, longe das dores e dos humores
é tarefa diária de quem vive
aos saltos e sobressaltos; acrobata
das situações e dos nervos, penduro-me
no trapézio das aflições, tento jogar-me
ao ar, ser amparado pela cama elástica,
mas ferro-me a uma segurança absurda
e balanço no ar, certo de que as pessoas
admiram minha coragem e não
advinham a covardia escondida
nas doidas acrobacias desenhadas no ar.

segunda-feira, 6 de abril de 2015

No momento da despedida
faltou aquela palavra
e você atirou-a contra minha cara,
justo você, que sempre me disse
que compreendera tão bem
o meu silêncio inexorável,
o meu mutismo incandescente.
Justo você, foi quem partiu remoendo
que eu não pedi para que ficasse. 

Este silêncio branco das palavras
me mastiga a alma,
suas fortes mandíbulas
fazem de mim presa fácil
às suas torturas palavrares.
Jogo com o branco da página
brinco com seu espaço vazio
adorno de negro esse véu alvo
alvo de tantas histórias, prazeres e
desprazeres, amores e desamores,
esta tortura física por depender
de alguém que te leia
que te ame, que preencha teu vazio.
Nisso sou como a página em branco
possuo um vazio alvo enorme
e essa intensa necessidade de que me adornem
que me preencham, que maculem meu ser.

As cidades pequenas são inexoráveis
em sua beleza e em sua fealdade
impossível mudar-lhes as ruas.
As pessoas são intransponíveis
em suas velhas e arcaicas opiniões.
.
Cansa a monotonia das velhas bicicletas
rodando a lentidão dos dias
que se arrastam sob os pés inábeis
incertos do destino de todo homem.

Os vizinhos escutam sempre a mesma canção
as lojas são sempre as mesmas, plantadas,
em meio a armarinhos e vendas de antanho,
só as pessoas envelhecem mais rapidamente

e o espanto do tempo cercam-lhes os passos
afogam em seus prantos, a crueza dos ponteiros
ostentados no alto da igreja matriz.

O carro de som anuncia ainda
a partida dos que desabitaram o corpo
e todos seguem para o velório nessa
longa e repetitiva procissão que 
sempre visita a futura morada.


Rememorei teu corpo
difícil escapar a 
terreno tão conhecido.
Mas teus olhos insulares
prenderam-me à vista
de tanto espaço a percorrer.
Minhas mãos sedentas
dessa posse antiga
herdada dos avós masculinos
congelaram-me nesse gesto
e não podia sair
de teus olhos de ínsula.
Naufraguei sem barco,
sem mar, sem ondas
nessa liquidez ocular
e fui me deixando ficar
até perceber que a posse
era tua e que tuas mãos
é que me prendiam
e que meu corpo já
não era mais meu.

Encontrei ruas escuras
lutuosas do dia morto
vazias de alegrias
vestindo o manto do silêncio.
Pude estar só, apenas eu,
contemplando a mim
esse ser de outras épocas
múltiplo, azul nas pálpebras
reguladas pelo frio noturno.
Fui eu, ex-boneco de jardim
enfeite de geladeira empoeirado,
agora revestido de voz e silêncio
mudo por opção, contemplativo
por prazer e alegria
de observar as ruas cheias
de fantasmas brancos, puros,
livres do velho mundo físico.

quarta-feira, 1 de abril de 2015



Eu que tenho me perdido
nessas miudezas alaranjadas
baixado ao nível do mato verde
e espiado os seres diminutos
que habitam os jardins,
já me sinto seu igual-irmão.
Ao rés-do-chão se vê melhor
o mundo em suas transitoriedades.
O mundo se veste de laranja 
e pequenos sóis iluminam
a realidade rasteira em
que acostumei ocultar-me
sob o verde de uma inútil esperança.


  A poesia é essa água que escorre pela boca e d esce pelas bordas  rompendo a barreira dos lábios. Diz e não diz f abula mundos intangív...