Compraram um pedacinho de chão. Os filhos estavam felizes,
poderiam cultivar a terra, criar porcos e galinhas e dali tirar seu sustento. Ambos
abraçavam suas esposas e olhavam com carinho para o pai e a mãe que os
acompanhava. O pai sonhava com netos, os filhos com seus filhos. Tudo era
perfeição e alegria.
Porém um dia, o pai tocaiado morre de um tiro de carabina.
Certeiro, tiro único na fronte. Mal os filhos choraram a partida do patriarca e
antes que engendrassem filhos nas suas esposas, duas novas tocaias, pertinho do
santuário de pedra, ceifaram Malom e Quiliom.
Numa mesma casa três mulheres, três viúvas, três sangues
quentes, três ventres pedindo homem. Três lamentações: a de Noemi de ser velha
demais e pouco apetitosa aos olhos; a de Orfa o amor dedicado à sogra a
despeito desta não ter outro filho para que pudesse se casar; Rute odiava a Orfa
e precisava se desvencilhar dela para, quem sabe, casar-se com Boaz, um parente
distante de Noemi.
Três mulheres, impossível a conciliação entre elas. Uma delas
sobrava na relação e precisava ser eliminada. Durante o caminho matinal de
buscar água, Rute sussurra a Orfa que a sogra pretende entregá-la a um peão de
estância e para isso diz que voltará a Sarandi. Orfa, assustada, resolve seguir todos os
conselhos de Rute.
Na hora da partida, Orfa seguindo à risca os mandamentos de
Rute, beija a sogra e resolve voltar a Nova Andradina em busca de um novo
marido, quem sabe um fazendeiro, porém chora amargamente ter de deixar aquela
que lhe foi como mãe e que agora queria traí-la vilmente.
Rute atira secamente um olhar para a sogra e diz: “Eras esta
a tua preferida? Mas veja, quem te sobrou fui eu! Ser-te-ei como uma filha,
embora não tenhas mais filhos com quem possa me casar.”.
Noemi, emocionada, recolhe uma última lágrima que desce pelos
sulcos de seu rosto; guarda no íntimo de
seu coração apresentar-lhe a Boaz seu primo distante, fazendeiro divorciado
três vezes e que ainda precisava de herdeiros. Sorri a Rute e diz: “Vamos minha
filha, pegues as trouxas, no primeiro ônibus para Sarandi embarcamos, com a
economia temos o que comer até chegar lá.”.
Seguem ambas as mulheres rumo ao Paraná, porém Rute ainda
guarda aquele punhal que não precisou usar com a ingênua Orfa.
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