O calor estava insuportável. A terra gemia contra aquela sede antiga de alguma vingança ainda não esquecida.
Semblante descaído, o lavrador fustigava o solo seco, golpeando com a enxada a terra roxa rocha de cada dia. Se preciso fosse a feriria com as próprias unhas.
Levanta a cabeça, a mão espalmada sobre os olhos a modo de viseira, permite ao lavrador ver o vulto de um homem que pouco a pouco se agiganta diante dele.
Pronto estaca na frente de Palomino Hernández. Estende-lhe a mão cheia de anéis, as unhas esmaltadas, um relógio de ouro no pulso, do peito pende uma medalhinha do coração de Nosso Senhor; panamá branco na cabeça e terno de linho completam a indumentária deste grande criador de gado.
É o irmão que vem novamente sacrificar....
Abre um sorriso largo no rosto, o dente de ouro brilha na boca, convida o irmão a tomar uma aguardente na venda.
Caminham ambos lentamente para o balcão. Bebem o cálice do aguardente da condenação. Prontamente, Palomino golpeia contra a madeira dois tostões; faz questão desta vez de pagar a bebida.
Afastam-se para o meio da planície. É hora do sacrifício. Palomino temendo novamente o olhar de reprovação do Senhor, deixa bruscamente as poucas espigas de milho sobre o altar de pedra e num átimo se levanta, sem saber se sua mão ou ele se alçou primeiro.
O sol e o panamá de Antonio se tingem de vermelho; do céu espigas em chamas bradam contra um Palomino fugitivo, de corpo fechado para as tocais, condenado a trabalhar pelo resto da vida nas terras do coronéis, em troca de uma botija de azeite e um punhado de farinha.
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