quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Fragmentos de uma tarde

O azul do céu se mistura ao avermelhado da tarde. São exatamente 20h23min e, incrivelmente, ainda está claro o dia. Se bem que prefiro este anoitecer demorado, como se a noite trouxesse um sentimento de estranhamento que sempre me incomoda, por isso nunca reclamo do horário de verão.
Na verdade poderia ler, mas acabei um romance agora mesmo e quero manter a sensação de beleza que o final da narrativa despertou em mim. Quero adiar a próxima fantasia, pois nesse momento a leitura passada ainda está muito presente e faz um reboliço em meus sentimentos.
Para não ler resolvi escrever um pouco e postar o texto no blog, numa clara certeza de que ninguém se interessará por um texto meio intimista que escrevo para adiar o próximo romance, como se a narradora de Relato de um certo oriente ainda estivesse a mexer no meu quarto de uma clínica psiquiátrica e tenha me enclausurado alguns dias com ela na sua busca por algo ou alguém do passado.
Sei que é fim de ano e muita gente não está lendo. A leitura para muitos não é um prazer, é uma obrigação, é como fazer sexo estando casado. Aí perde a graça mesmo; como a leitura para mim é tão boa quanto o sexo, ler no fim do ano, após o Natal, é uma ótima forma de relaxar.
Estou no mais fundo do interior do país. Palmital, uma cidadezinha de 35 mil habitantes, com gente desinteressante por toda parte, boyzinhos se achando dono da cidade e gente compartilhando seu som brega com todos que não fizeram a escola de Reginaldo Rossi. Sinto que fiz uma imersão no passado, como se a cidade jamais tivesse passando dos anos 1990. Assim, a leitura é uma forma de fuga da realidade. Quando não estou a conversar com as pessoas da minha família, meu único e exclusivo interesse na terra do palmito, estou a ler.
Ao menos a Manaus da família de libaneses é mais interessante e movimentada que a Palmital do Estado de São Paulo, com ruas pequenas, duas rotatórias de Playmobil e nada para se fazer. Talvez o tempo aqui estacione como em alguns momentos na narrativa de Milton Hatoum, como se o passado estivesse estático, preso aos papéis, cartas antigas, retratos, recortes de jornais e pequenas relíquias.

Assim está sendo meu fim de ano, entre as páginas de o Relato de um certo oriente e a pasmaceira da cidade de Palmital, onde as pessoas falam a gritos, ouvem música sertaneja, tomam cerveja num posto de gasolina e se acham o máximo. Aí muita gente não entende porque quando venho a Palmital fico apenas na casa de minha mãe. O mau costume quando generalizado se torna hábito e ninguém estranha. 

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