O azul do céu se mistura ao
avermelhado da tarde. São exatamente 20h23min e, incrivelmente, ainda está
claro o dia. Se bem que prefiro este anoitecer demorado, como se a noite
trouxesse um sentimento de estranhamento que sempre me incomoda, por isso nunca
reclamo do horário de verão.
Na verdade poderia ler, mas
acabei um romance agora mesmo e quero manter a sensação de beleza que o final
da narrativa despertou em mim. Quero adiar a próxima fantasia, pois nesse
momento a leitura passada ainda está muito presente e faz um reboliço em meus
sentimentos.
Para não ler resolvi escrever um
pouco e postar o texto no blog, numa clara certeza de que ninguém se
interessará por um texto meio intimista que escrevo para adiar o próximo
romance, como se a narradora de Relato de
um certo oriente ainda estivesse a mexer no meu quarto de uma clínica
psiquiátrica e tenha me enclausurado alguns dias com ela na sua busca por algo
ou alguém do passado.
Sei que é fim de ano e muita
gente não está lendo. A leitura para muitos não é um prazer, é uma obrigação, é
como fazer sexo estando casado. Aí perde a graça mesmo; como a leitura para mim
é tão boa quanto o sexo, ler no fim do ano, após o Natal, é uma ótima forma de
relaxar.
Estou no mais fundo do interior
do país. Palmital, uma cidadezinha de 35 mil habitantes, com gente
desinteressante por toda parte, boyzinhos se achando dono da cidade e gente
compartilhando seu som brega com todos que não fizeram a escola de Reginaldo
Rossi. Sinto que fiz uma imersão no passado, como se a cidade jamais tivesse
passando dos anos 1990. Assim, a leitura é uma forma de fuga da realidade.
Quando não estou a conversar com as pessoas da minha família, meu único e
exclusivo interesse na terra do palmito, estou a ler.
Ao menos a Manaus da família de
libaneses é mais interessante e movimentada que a Palmital do Estado de São
Paulo, com ruas pequenas, duas rotatórias de Playmobil e nada para se fazer.
Talvez o tempo aqui estacione como em alguns momentos na narrativa de Milton Hatoum,
como se o passado estivesse estático, preso aos papéis, cartas antigas,
retratos, recortes de jornais e pequenas relíquias.
Assim está sendo meu fim de ano,
entre as páginas de o Relato de um certo
oriente e a pasmaceira da cidade de Palmital, onde as pessoas falam a
gritos, ouvem música sertaneja, tomam cerveja num posto de gasolina e se acham
o máximo. Aí muita gente não entende porque quando venho a Palmital fico apenas
na casa de minha mãe. O mau costume quando generalizado se torna hábito e
ninguém estranha.
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