Sublevo-me contra o nada,
este é um mar de ausências
a me fustigar o peito.
Vejo cadáveres por todos os lados.
Pessoas que se calaram para sempre
ainda sufocadas, querem dar o último adeus.
Foram-lhes negadas as despedidas
cerraram suas bocas, romperam seus dentes
e ninguém ouviu o último estalo de seus corações.
Estou só, estamos sós, abandonados,
no mar das inconclusões e das dúvidas.
Espanco desesperado o ar
ainda tenho essa saída.
O grito preso na garganta agride o ar,
sinto-me vivo, inflo os pulmões
e digo aos que partiram
um até breve com os olhos,
para não lhes ofender os ouvidos.
Sou um privilegiado e isto assusta-me,
não posso doar o ar aos que se foram.
Justamente nós que éramos irmãos do vento
sem pátria, sem nacionalidade, sem documentos,
que provassem nossa humanidade.
Hoje, somos números, cifras, estatísticas,
o oxigênio virou exceção
e nós, os que restaram deste jantar insano,
sentimos a leve mão do ar a nos afagar
com culpas, com desculpas,
por respirar.
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