Falta pão
e o menino João
sonha com seu pé de feijão.
Seu canto não vem dos Andes,
não tem o condor de Neruda,
vem de baixo, das sarjetas,
das periferias esquecidas,
onde o pão é escasso
e o ovo, de gema amarela,
como um lindo sol a sair das nuvens,
às vezes, estala na frigideira.
Dizem que ele é feliz
tem bolsa família
e seus pais são vagabundos.
Seu irmão é desnutrido,
provavelmente morra
antes de completar dois anos
e sua mãe abortou algumas vezes.
João já conheceu três pais,
nenhum deles quis ficar.
Talvez, por suas pernas finas,
pensa João.
Não será jogador de futebol
nem servirá de avião ao tráfico.
Impossibilitado de pagar o alimento
seu sustento de todos os dias,
João come pouco
e desfalece ao sol do meio dia.
Aperta nas mãozinhas dois pequenos
grãos de feijão.
Imagina que no céu
o espera um gigante
de mãos enormes
que o colocará para dormir,
após um quente copo de leite.
Então, João abrirá a mãozinha
e lhe dará os dois feijõezinhos,
por deixá-lo ficar,
por lhe contar estórias de contos de fadas
antes de dormir.
No céu de João tem um gigante
ele não é mau
e o menino, embora pobre,
poderá pagar por sua comida.
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