Meu verso é estrábico
como o de uma santa
posta no altar.
Os olhos refletem
o desconhecido.
De olhos postos
no Criador, olha
com ternura o homem
frágil apegado ao nada.
Meu verso contempla
obliquamente a página,
flerta com o leitor
por insistência dele,
não o olha, pois como
pode contemplar o amador
sendo o verso a comunhão
de todas as coisas e de todos os astros?
Meu verso é universo e gira
sem saber em torno dele mesmo.
Meu verso sofre do estranhamento
que causam os estrábicos
quando tentam olhá-los de frente.
Mistério da criação estrábica
que não se rende aos olhares
e olha sem saber a coisa olhada
que é objeto da contemplação.
Meu verso é estrábico
e também não sabe para onde olha.
Chamem o doutor, chamem o ofaltmo,
que conserte os olhos de meus versos,
que sendo estrábicos não se rendem
facilmente à contemplação.