Eu que experimentei todas as coisas
contentei-me, afinal, em ser
palhaço no picadeiro da vida.
Vesti a máscara,
coloquei o nariz vermelho
e reconheci a impossibilidade
de corar diante de qualquer vexame
que me expus na longa lista
das vergonhas que enfrentei.
Podem rir de mim,
aceito o riso doente, consciente,
escrachado do público.
Essa plateia inerte,
incapaz de viver, de gozar,
de emborcar numa dose de conhaque,
mas que se submerge no mar encapsulado
dos antidepressivos em noites de insônia.
Deem-se ao luxo de uma gargalhada limpa
sincera, enquanto eu vivo meu suspense
de Hitchcok no stand up das desgraças
que lhes conto em confissão neste aparte teatral.