domingo, 29 de novembro de 2015

Invenção da vida

Imagino tuas faces em sonhos fora de hora
desenho teus olhos, teus lábios
tecendo em sombras uma nitidez mágica
no labirinto das entranhas que seduz
pelo mar calmo e morno das carnes
que envolvem em um ninho a vida inventada.
Envolvo estas carnes disformes na roda do útero
como o oleiro que desenha as formas
desejadas de um vaso em processo de criação.
Como o oleiro sem mãos, modelo-te
dentro de meu corpo, dando ao sonho
a cada noite detalhes que compõem teu ser.

sábado, 28 de novembro de 2015

Descobri que te carrego dentro de mim
marca inexorável no bloco de cera d'alma.
Gestei-te em minhas entranhas estéreis como
a um filho que se carrega por nove meses!
Não! Por anos, longos anos te carreguei
e aquilo que julgava peso, hoje
deixa a ausência de partidas mudas
dos adeuses calados em noites sombrias.
A lenta gestação de ti teve um final
partida brusca; traumas de cacos de vidros
levantaram trincheiras dentro de mim.
E devorei cada estilhaço do amor
que deixaste para trás para reter a doce
azul lembrança de um desejo devastador
que nos arrastou por correntezas de
um rio que engoliu margens, rompeu
barreiras e desrespeitou a nós mesmos
na ânsia de sempre se avolumar mais.

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Minha poesia é negra
como a asa de um corvo.
Seu piado espreita mortes
trabalhadas nas cumeeiras das casas.

Nas palavras e gestos de Penélope
teci mortalhas ao longo de anos,
evitei o antídoto de Sherazade
abortei os contos antes do amanhecer
e contemplei cabeças rolando.

Fiz da poesia minha guerra florida
nesses eclipses astecas em noites
de luas vermelhas.

No mundo das alegrias fabricadas
vendidas em milhares de terabites
quase na velocidade da luz einsteiana
meus versos são um refúgio de dor e 
S...O...L...I...D...Ã...O
e neles ainda se tem tempo de contemplar
a lápide de nossas vidas desprovidas
das horas e espaços desmemoriados
porque se volatizaram os conceitos da
E....T...E...R...N...I....D...A....D...E.

A dor de teu olhar
me prendeu no instante supremo
fez experimentar a morte
antes de cessar o tom da vida.
Passei a viver a morte em vida
porque o fim principia a libertação e
aos mortos não lhes aflige a consciência.
Quem julgará aos ossos? Quem quer ser
juiz das carcaças humanas?
A dor só é sentida na carne
e meu coração está em carne viva,
mas como fedem seus intentos
nesse bombear de bílis pelas veias.
Por isso, arranco meu coração
e te ofereço esse diamante negro
incapaz de sofrer os benefícios da lapidação.

Virgem de alabastro
rosto de bibelô diáfano
braços e pernas de porcelana
alva, branca, branquíssima.

Sorriso de página virgem,
misteriosa e sensual em
suas pernas porcelânicas.

Rompe teu vaso e deixa jorrar
o azeite doce e espiritual para
lubrificar em gotas de mirra flamejante
meus lábios de fel magoados da vida.

Banha-me do óleo santo 
no leito de desejos frêmitos
a tocar teus lábios de deusa etérea.

Embriaga-me dentro de ti
recolho-me ao seio eterno
da sepultura alabástrica
de tuas pernas e serei teu,
para sempre no túmulo do amor
secreto e eterno do Éden idílico.

Poesia escrita no ano de 2004

Ausências


Por que vieste,
se não podias ficar?
Se te era tão cara a estadia,
por que pediste pouso dentro de mim?
Eu que te apertei os ossos
como se quisesse te doar minha carne,
como se te quisesse gerar no ventre,
agora me vejo só e a lembrança
aguilhoa minha alma como um pecado mortal.
Hoje vivo de longos adeuses na varanda,
acenando a um passado embaçado
que não torna mais a mim
e como dói este quadro estático
que te tornaste, preso à moldura da memória.

Quando as doces palavras chegaram a meus ouvidos
prometendo delícias e a vida, devia ter desconfiado
que era levado pelo canto das sereias
e o mar e suas ondas de prometidas viagens
na verdade traziam a morte em seus enleios.
Se eu tivesse tapado os ouvidos
se tivessem me amarrado ao mastro da razão,
contemplaria as sereias e o mar, Odisseu estático,
não teria viajado, mas meu coração com vagas ondas
não seria este buraco negro que a tudo traga.
Mas, o canto da sedução é a elegia da morte
traga-se como mel as palavras melífluas
e curte-se o amargo na boca do estômago
em longas ruminações noturnas nos olhos
de uma plácida toura, triste nos campos da desilusão.

Preenchi os vazios com teus espaços
seus gestos miúdos, seus passos
e me tornei pleno de mim.
E já não havia espaços a ocupar
lugares vazios agora eram habitados
por essa sensação da longa espera
concluída, terminada em plenitude.

O passado é a ausência presente
contemplo estes porta-retratos mortos,
mas como doem em sua estaticidade.
Grito diante dessas imagens,
que mudas, zombam de minha aflição.
O passado, essa porta aberta às definitivas ações
olha-me inexorável do alto de seu orgulho
de ser e apenas ser o que é definitivamente.
Carrego no alforje porções de passado
e invejo a leveza das doces, suaves amnésias
que quase flutuam no tempo presente.
Felizes dos que viram, viveram e esqueceram
porque deles é o reino dos céus. Amém!!!

  A poesia é essa água que escorre pela boca e d esce pelas bordas  rompendo a barreira dos lábios. Diz e não diz f abula mundos intangív...