Aconteceu....mais uma vez a vida se esvaiu, coada por um buraco vermelho no corpo.
Era dia de ir para a escola. A mochila nas costas estava pesada de sonhos infantis, cheia de sóis amarelos, bailarinas rodopiantes e futuros imaginados. Estava cheia de si, por seus poros exalava a vida cheirosa que vêm das fantasias mais nítidas. Um mundo todo a existir e seu corpo pequenino imerso naquele calor da manhã.
A menina ia de mãos dadas com a mãe. A concha da palma da mão de mamãe trazia uma segurança morna e gostosa de sentir. Ela vivia e isso era tudo. Seu sol, mesmo nos dias difíceis, aliviava as dores, as incertezas e a menina era toda astro brilhoso, em torno do qual, girava a mãe e o pai. Mãe sol, pai lua, seu mundo ainda não necessitava de outros planetas. Era só aquela sensação gostosa de espera, que sempre terminava no final do dia, com o pai ou mãe a pegá-la pelas mãos e levá-la de volta para casa.
Mas, ainda era cedo. A menina reinava em seu mundo encantado e nada lhe prendia a imaginação.
Os estampidos não demoraram a romper as nuvens brancas em forma de um enorme rebanho de ovelhas. A menina olhava para o céu, como se ele a convidasse para evadir-se do mundo. Sentia uma enorme alegria e as nuvens roçavam seu rosto.
Logo um riozinho de sangue desceu por suas pernas. Era vermelho e quente como o sol. Não sentiu medo, afagou a mãe, sorriu e não entendeu porque ela chorava. Olhou nos olhos de mamãe e disse: "não precisa chorar, mãe, vou com as nuvens".
Sem soltar a mão da mãe, a menina navegou em seu sangue. Sentiu quando subia pelas nuvens e seu corpo esgotava-se por um pequeno furo. Não havia dor, apenas os olhos úmidos de mamãe e um mundo inteiro que desabava sobre aqueles que ficavam.
Não houve mais tempo para a menina, mas não precisava ter acontecido. Nunca precisa acontecer, os pais só querem a certeza de que filhos voltem para casa, enquanto eles esperam o tempo certo das fantasias se transformarem em sonhos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário