Não, não posso te deixar sair;
és pura demais para este mundo.
Dorme e eu te acalentarei
como a mãe que tem nos braços
o filho a quem tanto desejou.
Não, não posso abrir a porta,
sei que partirás e não me preparei
para este momento de vazio.
Como viver cada segundo
sem este sentimento indecifrável
que me oprime e me alegra o peito?
Não, não posso mais viver sem
esta companhia silenciosa
sem esta poesia que me arrebenta
as cordas que mantém meu coração
preso ao fio de até ontem uma vida medíocre.
Não, não vás; só te peço que não me deixes
nem acenes com a cabeça o certo adeus.
Como te olhar pelas costas e perder
da ponta de teus dedos o toque sensível?
Não, não saias! Sei que sou ridículo,
mas, este momento, esta carícia, esta luz
só podem ser vividas agora, neste despertar
mudo e contente de tê-la só para mim.
E esta certeza da poesia só eu terei,
pois é impossível dividir com Outro
o que é só meu e foi feito só para mim,
que sentado aqui nesta cadeira,
vivo os últimos momentos
antes do inevitável adeus.
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