Comi o pão amanhecido de tua boca,
as manhãs estavam plenas de sol
e o azul dos olhos do céu
enchia o céu de minha boca
de estrelas, enquanto as borboletas
voavam sobre a boca de meu estômago.
O pão, a boca, o abismo
de cada dia,
a oração dos loucos e dos apaixonados
diante desse altar indigno de tuas nádegas.
Faço-me navegante e sou todo brilho,
todo luzes e de minha boca jorram
as águas de teu corpo.
O mundo entra pela minha boca,
a Terra torna vazia e sem forma
e o espírito de Deus paira sobre as águas.
sábado, 26 de agosto de 2017
quinta-feira, 24 de agosto de 2017
Quando te envolvi com os braços
todos carregados de palavras
e dei a ti uma aliança de verbos e adjetivos,
surpreendeu-me o gesto simples da resposta
rápida dos amantes de anos que se compreendem
como atores de um filme mudo.
Fiquei estático, sem palavras,
porque nunca soube ser sem falar
e ao tirares de mim sem avisos prévios
as sílabas com que te seduzias,
endureci de um olhar em fúria.
Sem mais palavras, balbuciei
meia dúzia de monossílabos
e eu que vinha carregado com um ramalhete
vivo de discursos,
parti mudo, como quem leva
flores murchas e doentes ao cemitério.
todos carregados de palavras
e dei a ti uma aliança de verbos e adjetivos,
surpreendeu-me o gesto simples da resposta
rápida dos amantes de anos que se compreendem
como atores de um filme mudo.
Fiquei estático, sem palavras,
porque nunca soube ser sem falar
e ao tirares de mim sem avisos prévios
as sílabas com que te seduzias,
endureci de um olhar em fúria.
Sem mais palavras, balbuciei
meia dúzia de monossílabos
e eu que vinha carregado com um ramalhete
vivo de discursos,
parti mudo, como quem leva
flores murchas e doentes ao cemitério.
segunda-feira, 21 de agosto de 2017
Os animais me atraem
não tanto como as pessoas,
mas como dói esse contato
áspero de insutilezas.
O animal humano
ainda brilha no horizonte
de minhas contemplações
e como é sofrível
ter com esses seres amizade
ou amor.
Antes tivesse a casa cheia de gatos
ou cercado de cães recebesse as lambidas
de um amor sincero e desinteressado.
Porém, sofro com as patadas e os coices
da humana gente,
que de animal só não tem o andar
em quatro patas.
Como seria feliz, se amasse, se amasse
um animal de quatro patas com pelos,
latidos e ronronares amorosos.
não tanto como as pessoas,
mas como dói esse contato
áspero de insutilezas.
O animal humano
ainda brilha no horizonte
de minhas contemplações
e como é sofrível
ter com esses seres amizade
ou amor.
Antes tivesse a casa cheia de gatos
ou cercado de cães recebesse as lambidas
de um amor sincero e desinteressado.
Porém, sofro com as patadas e os coices
da humana gente,
que de animal só não tem o andar
em quatro patas.
Como seria feliz, se amasse, se amasse
um animal de quatro patas com pelos,
latidos e ronronares amorosos.
quarta-feira, 16 de agosto de 2017
Oração dos Curitibanos
Curitiba de amores e rumores
de onde vêm teus ventos gelados?
A praça é do General Osório,
o museu é do Olho,
o cavalo é babão,
e da praça, Santos Andrade
espia a branca universidade.
Curitiba dos imigrantes,
teus filhos são eternos
teus advogados são vampiros,
teus poetas são pernetas
e tua Alice é das maravilhas.
Curitiba predileta,
a Ópera é de Arame
o licor é de merda,
a Pedreira é do poeta
e Afonso Pena para chegar
ao aeroporto pela avenida das Torres.
O Jardim é Botânico e tem estufa
o Memorial é dos ucranianos
o Portal é dos italianos
o Bosque é do Papa
e a Boca é Maldita,
bebendo o vinho de Santa Felicidade.
Vamos ao Mercado Municipal
e depois ao shopping da Estação,
que o trem para Morretes parte cedo
e o Largo da Ordem convida à desordem
dos cheiros, misturas e sabores da noite.
Curitiba de todos os povos, orai
e olhai por nós de tua mística Torre,
Amém.
de onde vêm teus ventos gelados?
A praça é do General Osório,
o museu é do Olho,
o cavalo é babão,
e da praça, Santos Andrade
espia a branca universidade.
Curitiba dos imigrantes,
teus filhos são eternos
teus advogados são vampiros,
teus poetas são pernetas
e tua Alice é das maravilhas.
Curitiba predileta,
a Ópera é de Arame
o licor é de merda,
a Pedreira é do poeta
e Afonso Pena para chegar
ao aeroporto pela avenida das Torres.
O Jardim é Botânico e tem estufa
o Memorial é dos ucranianos
o Portal é dos italianos
o Bosque é do Papa
e a Boca é Maldita,
bebendo o vinho de Santa Felicidade.
Vamos ao Mercado Municipal
e depois ao shopping da Estação,
que o trem para Morretes parte cedo
e o Largo da Ordem convida à desordem
dos cheiros, misturas e sabores da noite.
Curitiba de todos os povos, orai
e olhai por nós de tua mística Torre,
Amém.
A viagem e o regresso.
Na memória, a aventura.
Viajamos antes de partir
viajamos após regressar.
Nunca estamos parados,
estamos em trânsito
para o passado ou para o futuro;
a viagem que foi, a viagem que será.
Vivemos a expectativa da partida
e a saudade da chegada.
Nunca estamos em nós
viajamos sempre.
Eternos Odisseus em busca de Ítaca,
filhos do mito navegante
atravessamos a vida,
mesmo sabendo que o fim
se repete para todos
e que as pernas são curtas
para o caminho.
Na memória, a aventura.
Viajamos antes de partir
viajamos após regressar.
Nunca estamos parados,
estamos em trânsito
para o passado ou para o futuro;
a viagem que foi, a viagem que será.
Vivemos a expectativa da partida
e a saudade da chegada.
Nunca estamos em nós
viajamos sempre.
Eternos Odisseus em busca de Ítaca,
filhos do mito navegante
atravessamos a vida,
mesmo sabendo que o fim
se repete para todos
e que as pernas são curtas
para o caminho.
terça-feira, 15 de agosto de 2017
Aprendi que se sofre só
mudo de calado
anônimo de pessoas
que ninguém está para ouvir
lamúrias ou choros.
Gostam de gente alegre,
sorridente de dentes à mostra
pronta para festas e amizades.
Sofre-se só, de dor miúda ou grande
impertinente em suas náuseas.
Quem é alegre está nas ruas
cercado de amores e sorrisos,
porque gente alegre chama a atenção.
Quem sofre, sofre no miúdo espaço da solidão
nem mais nem menos, sofre-se só e calado,
nas praças ou nos quartos, alheio de mãos
e carente de efêmeros afagos.
mudo de calado
anônimo de pessoas
que ninguém está para ouvir
lamúrias ou choros.
Gostam de gente alegre,
sorridente de dentes à mostra
pronta para festas e amizades.
Sofre-se só, de dor miúda ou grande
impertinente em suas náuseas.
Quem é alegre está nas ruas
cercado de amores e sorrisos,
porque gente alegre chama a atenção.
Quem sofre, sofre no miúdo espaço da solidão
nem mais nem menos, sofre-se só e calado,
nas praças ou nos quartos, alheio de mãos
e carente de efêmeros afagos.
sábado, 12 de agosto de 2017
A escultura informe grita sozinha
alheia aos olhos das pessoas.
Boca maldita, maldita boca
de passantes e transeuntes.
Bêbados e solteiras, clowns
e executivos disputam a praça
das memórias, dos cafés e dos bares
quentes da cerveja que evapora das bocas.
Boca maldita, maldita boca de todos nós
orai pelos perdidos da praça,
orai pelos perdidos do mundo, alheios
aos olhos de Deus e caídos na malendicência
da Boca maldita, da maldita boca
de todos nós.
alheia aos olhos das pessoas.
Boca maldita, maldita boca
de passantes e transeuntes.
Bêbados e solteiras, clowns
e executivos disputam a praça
das memórias, dos cafés e dos bares
quentes da cerveja que evapora das bocas.
Boca maldita, maldita boca de todos nós
orai pelos perdidos da praça,
orai pelos perdidos do mundo, alheios
aos olhos de Deus e caídos na malendicência
da Boca maldita, da maldita boca
de todos nós.
sexta-feira, 4 de agosto de 2017
Inutilidade
Inútil a vida como a morte
ambas não têm sentido
nem rumo certo.
A incerteza do futuro,
a incerteza do pós-morte.
A incerteza da inutilidade
que é pensar sobre a vida
e sobre a morte.
Inútil o dia como a noite,
inútil a poesia como o amor,
o sexo ou o futebol.
Inútil a literatura e o jornal,
ambos com suas ficções.
Inútil o alimento
que alimenta o corpo
e o engorda para a morte.
Inútil a música e os músicos
inútil o professor e o doutor,
todos inúteis em seus egos
descabíveis e minúsculos.
Inúteis as palavras
pesando sobre a língua
e sobre as consciências.
Inútil a filosofia e suas mil
formas de pensar a vida.
Inútil a história como a piada,
ambas risíveis e mentirosas.
Inútil o remédio que prolonga a vida
e retarda a inevitável morte.
Inútil a xícara quando se toma igual
o café em um copo americano.
Inútil a faca que corta a carne
quando uma dentada basta.
Inútil nossa hipócrita civilidade
que grita dentro de nós primitivos desejos.
Inútil o argumento
quando jamais mudaremos de opinião.
Inútil a pressa de chegar
se devagar chega-se ao mesmo lugar.
Inútil o corpo quente
quando se goza também sozinho.
Inútil a saudade
se ela se acaba com o encontro.
Inútil a verdade
quando muitos vivem felizes
com a mentira nossa de cada dia.
ambas não têm sentido
nem rumo certo.
A incerteza do futuro,
a incerteza do pós-morte.
A incerteza da inutilidade
que é pensar sobre a vida
e sobre a morte.
Inútil o dia como a noite,
inútil a poesia como o amor,
o sexo ou o futebol.
Inútil a literatura e o jornal,
ambos com suas ficções.
Inútil o alimento
que alimenta o corpo
e o engorda para a morte.
Inútil a música e os músicos
inútil o professor e o doutor,
todos inúteis em seus egos
descabíveis e minúsculos.
Inúteis as palavras
pesando sobre a língua
e sobre as consciências.
Inútil a filosofia e suas mil
formas de pensar a vida.
Inútil a história como a piada,
ambas risíveis e mentirosas.
Inútil o remédio que prolonga a vida
e retarda a inevitável morte.
Inútil a xícara quando se toma igual
o café em um copo americano.
Inútil a faca que corta a carne
quando uma dentada basta.
Inútil nossa hipócrita civilidade
que grita dentro de nós primitivos desejos.
Inútil o argumento
quando jamais mudaremos de opinião.
Inútil a pressa de chegar
se devagar chega-se ao mesmo lugar.
Inútil o corpo quente
quando se goza também sozinho.
Inútil a saudade
se ela se acaba com o encontro.
Inútil a verdade
quando muitos vivem felizes
com a mentira nossa de cada dia.
quinta-feira, 3 de agosto de 2017
Por que as palavras?
As inúteis e repetidas palavras
a zumbirem em meus ouvidos?
Embora tenhas te calado,
ainda as ouço [as palavras ou os gritos?]
como em sonho distante;
perderam, porém, o efeito das erupções
e dormem no fundo do peito
tão vazias de sentido;
desgastadas pelo tempo
as tuas palavras, tão tuas
que as entreguei a ti
e nada mais dizem e adormeço
e me alegro fetalmente seguro de mim.
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