Vi um pássaro da janela de meu apartamento
não era belo, era desprovido de encanto, feio.
Era um filhote, não se pode dizer que era
um passarinho desses de se pôr na palma da mão.
Não estava implume, mas ainda lhe restava
uma penugem branca sobre as penas negras.
Seu bico era longo, adunco, cravado entre
um par de olhos negros amedrontados.
Provavelmente caíra do ninho e sozinho
tinha receio de mim que o olhava.
Ficamos nesse olhar silencioso dias.
Pela manhã abro a janela e vejo
no telhado da garagem meu pássaro.
Olho para ele e ele para mim
irmanamo-nos nesse olhar negro e sombrio.
Hoje abri a janela e não o encontrei
meu pássaro voou ou morreu, não sei.
E só restou o vazio daqueles olhos negros
daquele urubu soturno e solitário com quem
compartilhava as primeiras horas da manhã.
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