sexta-feira, 1 de março de 2013
El tango
Ir a Buenos Aires e não conhecer o legítimo tango portenho é um pecado ao qual não se perdoa facilmente a um turista. Uma das primeiras perguntas que te fazem ao voltar é: e aí, você viu o tango? Essa pessoa te persegue, te nega, te pisa, caso não tenha vista o tal do tango. Pois, então, aí vou eu a cumprir o fadado destino de bailar, desculpa, conhecer o tal do tango pessoalmente, apertar sua mão, sentir a sensualidade de seus braços e conhecer a tragicidade de seu olhar.
Assim, foi meu primeiro de janeiro de 2013. Às 11h00 peguei, na rua lateral da 25 de Mayo, um coletivo todo colorido. 3 pesos seu valor e um passeio que nenhum guia turísticos poderia me ofertar. Ouvir as vozes em espanhol, desfrutar dos sons na cotidianidade de um portenho preocupado em chegar à sua casa ou simplesmente indo para o almoço com amigos na gênese do ano que nascia.
Troco algumas sílabas com o simpático chofer do coletivo que me garantem descer, posteriormente, no ponto correto. Destino: El Caminito. Suas casas coloridas, o ruído alegre dos restaurantes, as casas de tango fechadas, por ser dia, favorecendo aos dançarinos de rua.
Logo na primeira esquina, um casal simpático, cheio de sorrisos, dançando tango, percebe os primeiros viajantes descerem da nau urbana para seus laços de encanto.
Juntamente a outros turistas, olho para o casal que desliza suavemente pela irregular calçada em frente ao restaurante. Com mãos gulosas nos puxam para a dança e dançamos, literal e figuradamente. Umas fotos, umas poses do típico baile argentino, que me garantem a prova de ter estado em Buenos Aires e lá se vão 25 pesos, neste caso, bem gastos.
A moça foi tão simpática que até esqueci minhas cadeiras duras, meu jeito de bambu ao vento e ensaiei uns passos com a dançarina. Olhares trágicos, rostos quase colados, como na encenação típica desta dança, ali estava eu a imitar despudoradamente um dançarino argentino, mero pastiche de um pé-de-valsa em fim de semana, seduzido pelas artes do tango, enlaçado em braços alheios que me levariam os 25 pesos.
Fora os 25 pesos do quadro de encenação, já seduzido pelas ruas de paralelepípedo e os quadros pintados pelas paredes do bairro, deixei-me levar por uma cuia de mate e uma bomba, ambas compradas de uma índia, e que hoje está sobre a mesa em minha casa. Não tomo chimarrão nesta cuia de memória, mas quis saber como se sentia Cortázar e Borges ao olharem para suas cuias de mate e como será que viam a vida pela erva fumegante em um dia de inverno.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
A poesia é essa água que escorre pela boca e d esce pelas bordas rompendo a barreira dos lábios. Diz e não diz f abula mundos intangív...
-
Difícil resumir em poucas linhas, quiçá em poucos parágrafos trinta e nove anos de vida. Nem de perto passou por minha cabeça essa possibil...
-
Ouvi em algum lugar que a cova ou a sepultura, se quiserem ser mais educados, é o fim de todos nós. A morte nos iguala, ricos ou pobres se v...
-
No começo era o verbo e foi uma falação sem fim, um palavrório de burburinho até que se fez o homem e a palavra nada pôde a partir daí. ...
Um comentário:
adorei o relato de sua experiência e viva "El Tango". Parabéns pelo blog. Abraços,Cintia
Postar um comentário