Há dias que são frios. Mas são tão frios que nada nos aquece. Olhamos ao redor e tudo está gelado. As pessoas estão geladas, as ruas estão geladas, o coração está gelado.
Ainda muitos insistem que temos de ser feliz. Feliz como? Qual o motivo da felicidade? Tenho a impressão que a vida às vezes é uma comédia grotesca.
Há uma plateia que não vemos, nem conhecemos. Porém, ela ri de cada tristeza, de cada desgraça contada pelas pessoas.
Desemprego, fome, dívidas, relacionamentos familiares quebrados, falta de esperança, pessoas com câncer, bêbados dirigindo e matando as pessoas, traficantes seduzindo com o tráfico e matando jovens, tudo uma verdadeira delícia para esta plateia invisível que aplaude os fracassos das pessoas.
Vivemos enfermos, numa grande fila de hospital público, na qual cada um conta suas mazelas, delicia-se com pílulas para pressão alta, diabetes, colesterol, drágeas para combater depressão, coquetel para HIV, HPV e todos os tipos de doenças e dores possíveis.
Vivemos a época dos relacionamentos quebrados, nos quais não há verdadeira intimidade, tornamo-nos superficiais dentro de nossas casas, namoros e casamentos. Cada um vive seu mundo pequeno e infantil da era pós-moderna.
Os dias são frios, a solidão é grande; dias longos demais para viver, noites curtas demais para sonhar.
domingo, 24 de março de 2013
sábado, 9 de março de 2013
O menino das bolinhas de gude
Nunca mais vi o menino das bolinhas de gude. Na verdade, ele sumiu mesmo quando eu ainda estudava no antigo Ginásio da cidade. O pessoal chamava de Horácio. Prédio velho, antigo, escada de mármore branco e salas com tacos descascados e corroídos pelo tempo. Havia armários grandes de madeira, velhos como a escola e como a tia Maria José, na época velha hoje mais velha ainda, por incrível que pareça ainda vive.
Tínhamos a mania de jogar bolinhas de gude no intervalo. O melhor jogo era entre irmãos, jamais perdíamos nossas bolinhas e ficava tudo em família. Afinal brincadeira de bolinha de gude é de menino pobre, que não tem dinheiro para comprar brinquedo melhor. Nem sei como meu pai permitia comprar algumas bolinhas. As melhores eram as achadas, caídas pela sarjeta de algum bolso descuidado, essas não custavam nada, mas eram as mais caras da coleção.
As azuis eram as mais baratas, comprava-se em qualquer boteco de bairro. Lá estava o vidro cheio aguçando os olhos dos meninos. Entre o chiclete Ping Pong e as bolinhas, comprávamos estas. Elas garantiam a entrada no grupo dos demais meninos, todos com seus bolsos ou embornais cheios de gude. Alguns meninos maiores tinham de diversas cores, brancas como leite, transparentes e cheias de cores dentro e o acinho, este nos enchiam os olhos, vivíamos a cata de rolimãs antigas nas oficinas para retirar as cobiçadas bolinhas, boas para arrebentar as dos adversários.
Jogávamos no meio-fio, ali era o circuito dos meninos pobres, abaixados, de cócoras a jogar ou quando sem bolinhas a torcer pelos amigos. Mãos sujas, suados, bolsa escolar nas costas, íamos até nossas casas jogando e cada um se dissipando pelo caminho de acordo com que chegavam às suas casas.
Veio um menino transferido de outro colégio. Temido por todos, contavam que havia arrebentado a cara de vários meninos na outra escola, que era briguento, trazia canivete e era ótimo em ganhar bolinhas de gude dos demais meninos. Só jogava com bolinha de aço. Tinha força nos dedos e arrebentava a bolinha do inimigo que estava no meio fio, obrigando o outro menino a perder duas bolinhas ao mesmo tempo, pois tinha de pagá-lo.
Embora ninguém quisesse jogar com ele por medo, ninguém tinha coragem de dizer não a ele, já chegava com a mão fechada em tom de ameaça e não havia saída. O outro menino ia quase chorando para a sarjeta, sabia que perderia sua bolinha honesta ou desonestamente, pois o menino jogava de expulsão, esticando longamente a mão para acertar o outro gude, porém, ninguém tinha coragem de reclamar o desaforo, seria olho roxo na certa.
Nunca tive muitas bolinhas, o dinheiro, ou melhor a falta dele não permitia. Assim que vivia receoso de encontrar com o menino das bolinhas de gude pelo pátio. Enfim, não houve escape, um belo dia, alisando minhas poucas bolinhas no bolso da bermuda jeans, antiga calça que ficara curta e fora cortada pela minha mãe para aproveitar mais tempo a roupa, tenho o fatídico encontro.
Sem saída aceitei o desafio. Ele disse pode jogar primeiro. Colocou o acinho dele e eu já tremendo de medo em perder as bolinhas ou apanhar ali mesmo caso acertasse o gude dele, dei o tiro em falso. Sorriso no canto dos lábios, o menino baixou e acertou meu gude, além de espedaçá-lo, a cada tiro certo dele eu teria de pagar no outro dia dez bolinhas de gude. Tinha apenas cinco gudes, ou seja, ficaria devendo cinquenta gudes para ele. Em menos de cinco minutos tornava eu devedor do menino, que me ao término do jogo me avisou, te dou uma semana para pagar tudo, senão te acerto o olho e te deixo roxo.
Menino franzino, eu não ele, fui para casa tremendo de medo. Como contar para meu pai que ele teria de me dar dinheiro para cinquenta bolinhas, levaria um couro na certa. Por dois motivos, por covarde e por ter perdido, além da eterna promessa, se apanhar na rua e contar em casa apanha de novo. Não contei.
No outro dia, lá estava o menino na porta do colégio, ao me avistar já me lembrou: "Olha, faltam 6 dias". Para piorar o sorveteiro com dentes de ouro e chapéu na cabeça disse para o menino em tom de compadrismo, isso mesmo, se não te pagar acerta o olho dele, senti-me mais desprotegido ainda.
A cada dia que passava eu tremia mais, mudava de rua para ir à escola, ficava na sala de aula na hora do intervalo, ia embora pelos mais diversos caminhos, chegava tarde em casa, dava desculpas.
Enfim, chegou o fatídico dia. Fui para a escola tremendo. Contando os passos, as lajotas das calçadas, as pedras que havia no caminho, as flores das árvores, mas tempo é tempo e passou. Assim, cheguei à escola já esperando a surra prometida, afinal não tinha as bolinhas e o medo que tinha de meu pai fez-me preferir a surra, dupla pois chegaria em casa de olho roxo e no outro dia seria um panda, um porrada do menino e outra de meu pai.
Sem saída preparei o couro. Subi as escadas correndo e cheguei à sala de aula ofegante. Fiquei de castigo por ter chegado atrasado. Tive de ficar esperando no corredor o horário da segunda aula exposto aos perigos da porrada prometida. Deu horário, entrei na sala. Deu o sinal e não pude ficar na sala. Estavam roubando objetos das salas e agora todos éramos obrigados a descer. Minhas pernas tremiam. Desci ao pátio. Havia um clima diferente. Pensei que era o anúncio da porrada que ia levar.
Percorri os olhos. Enchi-me de falsa coragem e resolvi procurar o menino, com certa dificuldade pelo meu tamanho a ter de vencer os maiores no pátio, mas avancei. Melhor tomar a porrada de uma vez e me livrar do terror que vinha enfrentando há 7 dias, poderia ter dito que não pagaria, que não tinha como e levar a surra no mesmo dia, mas não sei por que fiquei sofrendo uma semana se já sabia que apanharia mesmo.
Avança a passos largos agora, era como se os outros meninos pressentissem o ataque, o covarde do meninozinho franzino pisava firme, pulava poças, esgueirava pelos cantos para chegar mais rápido. Abriu a clareira, todos se afastaram, chegou à sarjeta, ponto de encontro dos jogadores de gude.
Olhei para os lados e cheio de coragem perguntei. Onde está o menino do acinho? Ué, você não sabe. Foi preso hoje cedo, levaram-no para FEBEM. Mas por que? É que eu tinha um dívida com ele e vim pagar, trouxe o que ele havia me pedido. Então esquece ele não volta mais.
Aliviado fui para o banheiro, lavei o rosto e admirei a bola dos meus olhos intactas, meu olho não estava roxo. Podia ir para casa sem surra e dormir com o couro suave como pele de bebê.
Tínhamos a mania de jogar bolinhas de gude no intervalo. O melhor jogo era entre irmãos, jamais perdíamos nossas bolinhas e ficava tudo em família. Afinal brincadeira de bolinha de gude é de menino pobre, que não tem dinheiro para comprar brinquedo melhor. Nem sei como meu pai permitia comprar algumas bolinhas. As melhores eram as achadas, caídas pela sarjeta de algum bolso descuidado, essas não custavam nada, mas eram as mais caras da coleção.
As azuis eram as mais baratas, comprava-se em qualquer boteco de bairro. Lá estava o vidro cheio aguçando os olhos dos meninos. Entre o chiclete Ping Pong e as bolinhas, comprávamos estas. Elas garantiam a entrada no grupo dos demais meninos, todos com seus bolsos ou embornais cheios de gude. Alguns meninos maiores tinham de diversas cores, brancas como leite, transparentes e cheias de cores dentro e o acinho, este nos enchiam os olhos, vivíamos a cata de rolimãs antigas nas oficinas para retirar as cobiçadas bolinhas, boas para arrebentar as dos adversários.
Jogávamos no meio-fio, ali era o circuito dos meninos pobres, abaixados, de cócoras a jogar ou quando sem bolinhas a torcer pelos amigos. Mãos sujas, suados, bolsa escolar nas costas, íamos até nossas casas jogando e cada um se dissipando pelo caminho de acordo com que chegavam às suas casas.
Veio um menino transferido de outro colégio. Temido por todos, contavam que havia arrebentado a cara de vários meninos na outra escola, que era briguento, trazia canivete e era ótimo em ganhar bolinhas de gude dos demais meninos. Só jogava com bolinha de aço. Tinha força nos dedos e arrebentava a bolinha do inimigo que estava no meio fio, obrigando o outro menino a perder duas bolinhas ao mesmo tempo, pois tinha de pagá-lo.
Embora ninguém quisesse jogar com ele por medo, ninguém tinha coragem de dizer não a ele, já chegava com a mão fechada em tom de ameaça e não havia saída. O outro menino ia quase chorando para a sarjeta, sabia que perderia sua bolinha honesta ou desonestamente, pois o menino jogava de expulsão, esticando longamente a mão para acertar o outro gude, porém, ninguém tinha coragem de reclamar o desaforo, seria olho roxo na certa.
Nunca tive muitas bolinhas, o dinheiro, ou melhor a falta dele não permitia. Assim que vivia receoso de encontrar com o menino das bolinhas de gude pelo pátio. Enfim, não houve escape, um belo dia, alisando minhas poucas bolinhas no bolso da bermuda jeans, antiga calça que ficara curta e fora cortada pela minha mãe para aproveitar mais tempo a roupa, tenho o fatídico encontro.
Sem saída aceitei o desafio. Ele disse pode jogar primeiro. Colocou o acinho dele e eu já tremendo de medo em perder as bolinhas ou apanhar ali mesmo caso acertasse o gude dele, dei o tiro em falso. Sorriso no canto dos lábios, o menino baixou e acertou meu gude, além de espedaçá-lo, a cada tiro certo dele eu teria de pagar no outro dia dez bolinhas de gude. Tinha apenas cinco gudes, ou seja, ficaria devendo cinquenta gudes para ele. Em menos de cinco minutos tornava eu devedor do menino, que me ao término do jogo me avisou, te dou uma semana para pagar tudo, senão te acerto o olho e te deixo roxo.
Menino franzino, eu não ele, fui para casa tremendo de medo. Como contar para meu pai que ele teria de me dar dinheiro para cinquenta bolinhas, levaria um couro na certa. Por dois motivos, por covarde e por ter perdido, além da eterna promessa, se apanhar na rua e contar em casa apanha de novo. Não contei.
No outro dia, lá estava o menino na porta do colégio, ao me avistar já me lembrou: "Olha, faltam 6 dias". Para piorar o sorveteiro com dentes de ouro e chapéu na cabeça disse para o menino em tom de compadrismo, isso mesmo, se não te pagar acerta o olho dele, senti-me mais desprotegido ainda.
A cada dia que passava eu tremia mais, mudava de rua para ir à escola, ficava na sala de aula na hora do intervalo, ia embora pelos mais diversos caminhos, chegava tarde em casa, dava desculpas.
Enfim, chegou o fatídico dia. Fui para a escola tremendo. Contando os passos, as lajotas das calçadas, as pedras que havia no caminho, as flores das árvores, mas tempo é tempo e passou. Assim, cheguei à escola já esperando a surra prometida, afinal não tinha as bolinhas e o medo que tinha de meu pai fez-me preferir a surra, dupla pois chegaria em casa de olho roxo e no outro dia seria um panda, um porrada do menino e outra de meu pai.
Sem saída preparei o couro. Subi as escadas correndo e cheguei à sala de aula ofegante. Fiquei de castigo por ter chegado atrasado. Tive de ficar esperando no corredor o horário da segunda aula exposto aos perigos da porrada prometida. Deu horário, entrei na sala. Deu o sinal e não pude ficar na sala. Estavam roubando objetos das salas e agora todos éramos obrigados a descer. Minhas pernas tremiam. Desci ao pátio. Havia um clima diferente. Pensei que era o anúncio da porrada que ia levar.
Percorri os olhos. Enchi-me de falsa coragem e resolvi procurar o menino, com certa dificuldade pelo meu tamanho a ter de vencer os maiores no pátio, mas avancei. Melhor tomar a porrada de uma vez e me livrar do terror que vinha enfrentando há 7 dias, poderia ter dito que não pagaria, que não tinha como e levar a surra no mesmo dia, mas não sei por que fiquei sofrendo uma semana se já sabia que apanharia mesmo.
Avança a passos largos agora, era como se os outros meninos pressentissem o ataque, o covarde do meninozinho franzino pisava firme, pulava poças, esgueirava pelos cantos para chegar mais rápido. Abriu a clareira, todos se afastaram, chegou à sarjeta, ponto de encontro dos jogadores de gude.
Olhei para os lados e cheio de coragem perguntei. Onde está o menino do acinho? Ué, você não sabe. Foi preso hoje cedo, levaram-no para FEBEM. Mas por que? É que eu tinha um dívida com ele e vim pagar, trouxe o que ele havia me pedido. Então esquece ele não volta mais.
Aliviado fui para o banheiro, lavei o rosto e admirei a bola dos meus olhos intactas, meu olho não estava roxo. Podia ir para casa sem surra e dormir com o couro suave como pele de bebê.
Os olhos da raiva
Gostaria de olhar o mundo e poder desfrutar o que ele tem de melhor. Mas o melhor dele não é para todos. Nem todos podem comer do leite e mel que é uma promessa para viver bem. Olho para o mundo e vejo-o cinza; com raras exceções o enxergo colorido e cheio de vida. Nestas ocasiões, em geral, estou olhando para as árvores e flores. A natureza inquietante em sua mutabilidade me encantam os olhos e a alma. Que chavão não é mesmo?
Amo o inverno por esse motivo. Tudo fica cinza, sem cor, num clima de eterna e negra depressão. Tudo parece mais triste e incrivelmente mais feliz para mim. Não preciso demonstrar alegria, todos estão tristes, cabisbaixos, encapotados em grandes blusas de frio e a tomar café e chás o tempo todo. Ali o sorriso parece a eles uma ironia.
Adoro acordar cedo e ver que tudo está sem cor. A garoa caindo lentamente observando os transeuntes encolhidos, de queixo no peito e mãos no bolso. Pouco dispostos a cumprimentar quem quer que seja. Os olhares estão baixos nem sequer percebem que alguém passou ao seu lado.
Sentir-se molhado pelo chuvisco que teima em cair, sentir os pés congelando sem ter como fazer nada, chegar ao destino e estar sozinho, tremendamente só, perdido em meio às sombras e ali enfrentar os medos, as raivas, iras e rancores do passado que batem constantemente à porta de minha memória, reconstruindo com cores mais cruentas do que na verdade aconteceu realmente.
Não preciso ir ao cinema. É só fechar os olhos numa sala fechada e escura e ouvir as vozes do passado a me perturbar, a me ofender. Vendo os espectros a me roubar a honra, a fama, a vergonha, a me fazer tremer. Como me irrita ser covarde, um dia ajo como Riobaldo, faço-me valente por necessidade e vou para o meio do arruado tomar satisfação daqueles que me ofenderam.
Lembrar quando perdi a dignidade é difícil, mas nem todo homem tem coragem de assumir isso, assim em público, de forma desavergonhada, como velho que tomou sol demais na moleira. No entanto, posso dizer, uma vez perdida a dignidade ninguém mais te respeita. É como viver num eterno inverno, sem cor, cinza, a chuviscar permanentemente. Por isso gosto do inverno, as pessoas se encolhem em si como pinto entanguido e nunca te olham na cara. Para quem perdeu a dignidade, nada melhor que não ver o olhar das pessoas e curtir apenas o descarnado das árvores num dia cinza e chuvoso. Afinal, para quem perdeu a honra nem árvore se digna em me dar sombra.
Amo o inverno por esse motivo. Tudo fica cinza, sem cor, num clima de eterna e negra depressão. Tudo parece mais triste e incrivelmente mais feliz para mim. Não preciso demonstrar alegria, todos estão tristes, cabisbaixos, encapotados em grandes blusas de frio e a tomar café e chás o tempo todo. Ali o sorriso parece a eles uma ironia.
Adoro acordar cedo e ver que tudo está sem cor. A garoa caindo lentamente observando os transeuntes encolhidos, de queixo no peito e mãos no bolso. Pouco dispostos a cumprimentar quem quer que seja. Os olhares estão baixos nem sequer percebem que alguém passou ao seu lado.
Sentir-se molhado pelo chuvisco que teima em cair, sentir os pés congelando sem ter como fazer nada, chegar ao destino e estar sozinho, tremendamente só, perdido em meio às sombras e ali enfrentar os medos, as raivas, iras e rancores do passado que batem constantemente à porta de minha memória, reconstruindo com cores mais cruentas do que na verdade aconteceu realmente.
Não preciso ir ao cinema. É só fechar os olhos numa sala fechada e escura e ouvir as vozes do passado a me perturbar, a me ofender. Vendo os espectros a me roubar a honra, a fama, a vergonha, a me fazer tremer. Como me irrita ser covarde, um dia ajo como Riobaldo, faço-me valente por necessidade e vou para o meio do arruado tomar satisfação daqueles que me ofenderam.
Lembrar quando perdi a dignidade é difícil, mas nem todo homem tem coragem de assumir isso, assim em público, de forma desavergonhada, como velho que tomou sol demais na moleira. No entanto, posso dizer, uma vez perdida a dignidade ninguém mais te respeita. É como viver num eterno inverno, sem cor, cinza, a chuviscar permanentemente. Por isso gosto do inverno, as pessoas se encolhem em si como pinto entanguido e nunca te olham na cara. Para quem perdeu a dignidade, nada melhor que não ver o olhar das pessoas e curtir apenas o descarnado das árvores num dia cinza e chuvoso. Afinal, para quem perdeu a honra nem árvore se digna em me dar sombra.
quarta-feira, 6 de março de 2013
Hugo Chávez
Hoy ha muerto Hugo Chávez, por increíble que parezca algo me dolió en el corazón cuando he visto a las imágenes de miles de venezolanos llorando a su presidente. El líder de los pobres, el pueblo latinoamericano los necesita todos los días, pero nosotros nos olvidamos de la pobreza en que vivimos y por creernos ricos acusamos a estos líderes políticos.
Por lo menos Chávez era la cara de su pueblo, ameríndio como él, piel casi sucia de la historia que llevó a los pueblos indígenas al olvido. Chávez ofendía porque asomaba a las pantallas del mundo todo señalando al su tez india. Este era Chávez, presidente en un país donde las miss universo son blancas, altas y perfectamente hechas por manos de cirujanos.
Chávez no. Era gordito, cara de mestizo, de cholo, cara de la historia de una América que la gente quiere olvidarse, pero él obligó al mundo a recordar por 14 años la historia americana de muertes, robos, estupros a que Europa un día practicó en este continente en nombre de un sueño de riqueza.
Chávez no, luchó por su pueblo, bien o mal, medio dictador, medio salvador del pueblo, él rescató a la imagen del salvador Simón Bolívar, en realidad se creía un poco Bolívar, quizá su rencarnación, mismo que jamás haya hablado en esto, lo fue para muchos el Libertador, que ahora añade un daguerreotipo nuevo a la galería de nuevos libertadores de Venezuela y América Latina: Hugo Chávez, tal vez sólo Chávez, el corazón del pueblo.
sexta-feira, 1 de março de 2013
El tango
Ir a Buenos Aires e não conhecer o legítimo tango portenho é um pecado ao qual não se perdoa facilmente a um turista. Uma das primeiras perguntas que te fazem ao voltar é: e aí, você viu o tango? Essa pessoa te persegue, te nega, te pisa, caso não tenha vista o tal do tango. Pois, então, aí vou eu a cumprir o fadado destino de bailar, desculpa, conhecer o tal do tango pessoalmente, apertar sua mão, sentir a sensualidade de seus braços e conhecer a tragicidade de seu olhar.
Assim, foi meu primeiro de janeiro de 2013. Às 11h00 peguei, na rua lateral da 25 de Mayo, um coletivo todo colorido. 3 pesos seu valor e um passeio que nenhum guia turísticos poderia me ofertar. Ouvir as vozes em espanhol, desfrutar dos sons na cotidianidade de um portenho preocupado em chegar à sua casa ou simplesmente indo para o almoço com amigos na gênese do ano que nascia.
Troco algumas sílabas com o simpático chofer do coletivo que me garantem descer, posteriormente, no ponto correto. Destino: El Caminito. Suas casas coloridas, o ruído alegre dos restaurantes, as casas de tango fechadas, por ser dia, favorecendo aos dançarinos de rua.
Logo na primeira esquina, um casal simpático, cheio de sorrisos, dançando tango, percebe os primeiros viajantes descerem da nau urbana para seus laços de encanto.
Juntamente a outros turistas, olho para o casal que desliza suavemente pela irregular calçada em frente ao restaurante. Com mãos gulosas nos puxam para a dança e dançamos, literal e figuradamente. Umas fotos, umas poses do típico baile argentino, que me garantem a prova de ter estado em Buenos Aires e lá se vão 25 pesos, neste caso, bem gastos.
A moça foi tão simpática que até esqueci minhas cadeiras duras, meu jeito de bambu ao vento e ensaiei uns passos com a dançarina. Olhares trágicos, rostos quase colados, como na encenação típica desta dança, ali estava eu a imitar despudoradamente um dançarino argentino, mero pastiche de um pé-de-valsa em fim de semana, seduzido pelas artes do tango, enlaçado em braços alheios que me levariam os 25 pesos.
Fora os 25 pesos do quadro de encenação, já seduzido pelas ruas de paralelepípedo e os quadros pintados pelas paredes do bairro, deixei-me levar por uma cuia de mate e uma bomba, ambas compradas de uma índia, e que hoje está sobre a mesa em minha casa. Não tomo chimarrão nesta cuia de memória, mas quis saber como se sentia Cortázar e Borges ao olharem para suas cuias de mate e como será que viam a vida pela erva fumegante em um dia de inverno.
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