segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Ultrapassado

 Perdi o tempo

perdi a poesia

a vida passou rápida

e eu, lento, fiquei.

Meus versos são antigos

e eu ultrapassado.

Versejo ao nada

e mordo a língua

só para do sangue sentir

seu quente vermelho

a escorrer pela minha boca

alma a dentro. 

Busca

 Mergulho nas palavras

com as duas mãos.

Os dedos enrijecidos pelo tempo

desentranham dores e sangue

de uma época passada.

Luto com e contra as palavras,

que sozinhas pouco significam

juntas, porém, armam contra mim

um exército de acusações.

Dou às palavras meu sangue,

duelo com minha alma

contra a dura gramática

e pedindo ritmo à sintaxe,

mergulho na solidão dos duros vocábulos.

Tento a poesia que, indiferente,

foge às minhas mãos,

fazendo de meus dedos ampulhetas

dos instantes efêmeros. 

Devaneios

 Este meu corpo, frágil barco

a navegar sempre em busca

de outro corpo para atracar

é apenas um reflexo de mim.

Choro e rio, rosno e mostro os dentes,

mas é só por costume

de esconder o choro convulso

a que me entrego nas solidões.

Sou pequeno, sou indefeso

qual um menino com sua bola

a sonhar campos imaginários

onde corro herói de todos.

A máscara que carrego

sob a face oculta espera

o afago de uma divina mão

a puxar-me do poço onde me encontro.


O menino e a pipa

 Eu era um menino

com sua pipa

correndo irregular

pelas ruas de terra.

E o mundo era uma pipa

solta linha, prende linha

e a tarde acontecia

sem rumores de futuro.

Eu era um menino

e havia uma pipa solta no ar

rebolando no vento,

ensaiando mergulhos no nada.

Mas veio outra pipa,

maldosa em seus ardis,

e cortou minha linha

correu o cerol na rabiola

e eu não era mais um menino

com sua pipa no ar,

era apenas um homem 

com uma lata na mão

esperando as dores futuras.

quarta-feira, 18 de agosto de 2021

Despe-te

mas não a mim

e sim a ti

que te acaricias

como uma gata

a espraiar-te pela cama,

esta devastada cama de desejos

que a mim não me cabem teus  beijos.

A mim e não a ti, acaricias-me

com teus dedos

deixa-os percorrer meu aberto peito

que a desprezos e vãs loucuras

despertaste-me na cama

essa tumba tão vazia

onde jazíamos febris

das peles que se tocavam.

  A poesia é essa água que escorre pela boca e d esce pelas bordas  rompendo a barreira dos lábios. Diz e não diz f abula mundos intangív...