Perdi o tempo
perdi a poesia
a vida passou rápida
e eu, lento, fiquei.
Meus versos são antigos
e eu ultrapassado.
Versejo ao nada
e mordo a língua
só para do sangue sentir
seu quente vermelho
a escorrer pela minha boca
alma a dentro.
Perdi o tempo
perdi a poesia
a vida passou rápida
e eu, lento, fiquei.
Meus versos são antigos
e eu ultrapassado.
Versejo ao nada
e mordo a língua
só para do sangue sentir
seu quente vermelho
a escorrer pela minha boca
alma a dentro.
Mergulho nas palavras
com as duas mãos.
Os dedos enrijecidos pelo tempo
desentranham dores e sangue
de uma época passada.
Luto com e contra as palavras,
que sozinhas pouco significam
juntas, porém, armam contra mim
um exército de acusações.
Dou às palavras meu sangue,
duelo com minha alma
contra a dura gramática
e pedindo ritmo à sintaxe,
mergulho na solidão dos duros vocábulos.
Tento a poesia que, indiferente,
foge às minhas mãos,
fazendo de meus dedos ampulhetas
dos instantes efêmeros.
Este meu corpo, frágil barco
a navegar sempre em busca
de outro corpo para atracar
é apenas um reflexo de mim.
Choro e rio, rosno e mostro os dentes,
mas é só por costume
de esconder o choro convulso
a que me entrego nas solidões.
Sou pequeno, sou indefeso
qual um menino com sua bola
a sonhar campos imaginários
onde corro herói de todos.
A máscara que carrego
sob a face oculta espera
o afago de uma divina mão
a puxar-me do poço onde me encontro.
Eu era um menino
com sua pipa
correndo irregular
pelas ruas de terra.
E o mundo era uma pipa
solta linha, prende linha
e a tarde acontecia
sem rumores de futuro.
Eu era um menino
e havia uma pipa solta no ar
rebolando no vento,
ensaiando mergulhos no nada.
Mas veio outra pipa,
maldosa em seus ardis,
e cortou minha linha
correu o cerol na rabiola
e eu não era mais um menino
com sua pipa no ar,
era apenas um homem
com uma lata na mão
esperando as dores futuras.
Despe-te
mas não a mim
e sim a ti
que te acaricias
como uma gata
a espraiar-te pela cama,
esta devastada cama de desejos
que a mim não me cabem teus beijos.
A mim e não a ti, acaricias-me
com teus dedos
deixa-os percorrer meu aberto peito
que a desprezos e vãs loucuras
despertaste-me na cama
essa tumba tão vazia
onde jazíamos febris
das peles que se tocavam.
A poesia é essa água que escorre pela boca e d esce pelas bordas rompendo a barreira dos lábios. Diz e não diz f abula mundos intangív...