domingo, 12 de maio de 2019

Breve amanhã

Um dia morrerei e nada importará
do que houve na vida.

As histórias de amor soarão
a anedotas em breve esquecidas

e não mais amarei o calor dos corpos
nem o finito das palavras,

serei nu e leve com uma pena
branca levada pelo vento.

Com minha boca rirei das ilusões
e não mais haverá memória
deste corpo que carrego todos os dias.

Pouco importará se fui belo ou feio
se fui jovem ou sempre velho.

A morte me despirá de mim
e com ela irão minhas dores,

nem meu corpo terei mais
e serei uma sombra, talvez vaga lembrança,
nalgum mar revolto das memórias.

sábado, 11 de maio de 2019

Saltam espirais de pássaros de sua boca
e a alvorada de seus dentes
tem janelas de luzes
e olhos que espiam a manhã.

Nos jardins há balanços vazios
aguardando as crianças adormecidas
em seus sonhos de alados.

É dia e as horas engolem os pés
as mãos, as bocas e os olhos
que escorrem pelo ralo
da vida adulta dos compromissos.

La casa

Hecha de manos invisibles
las paredes están llenas
de ojos, oídos y almas
destrozadas de sueños.

Duermen sometidos por el adobe
esperanzas mudas de gente extraña
ajena y extranjera 
a los que viven bajo el cielo de tejas.

Pero las voces rotas
tartamudean detrás de las paredes
oraciones raras, deseos oscuros
en contra aquellos que indiferentes
les cerraron las puertas y las bocas.

Hay fotografías, cuadernos antiguos
gente muerta que nunca dejó de hablar
dentro de los baúles y roperos
que exigen los mismos espacios en la mesa.

Y cuando allá fuera brillan las estrellas
en el cielo azul oscuro de Hipnos
las almas abren sus bocas negras
y sin dientes se rien a carcajadas

indiferentes a los relojes que gotean
las horas deshaciendo el tejido 
de los cuerpos durmientes
que ensayan la cama definitiva.

La casa es un vientre tibio
arriesgado y desconocido
es una boca negra de hambre
y deseos de vida y muerte
que saltan de los agujeros y huecos
de cerrojos que engullen las llaves.



quinta-feira, 9 de maio de 2019

Vigilia Nocturna


Duermo a tus espaldas
mientras sueño con tus pechos
al otro lado de la montaña.

Miro la oscuridad en que las telarañas
prenden a sus presas inadvertidas
del inevitable destino.

Duermes y tu aliento llena el aire
con  el peso de tu noble existencia
y yo, presa de ti, hago que duermo.

Sueño tus sueños
y los ojos son dos brasas vivas
como el gato que maulla

acariñando a su víctima.
De ti soy todo existencia
en el hilo que me tejes la cuna. 

quarta-feira, 8 de maio de 2019

Día


De tu vientre caliente
burbujean olas de calor,
llamas del alma cándida
en fiebres de novedad.
Te siento húmeda e inexorable
Y el día anuncia viscosidades
 de cueva sana
llena de hambres y sed.
Sé mía: te murmullo en los oídos
y nada me dices.
Miro el día y tu aliento tibio
del mediodía devora
las horas en un hueco
de vértigos rosados y blancos.
Y no te veo, día enamorado,
pero sé que huele a rosas,
y nada puedo contra el silencio
de las horas mudas rencorosas.

domingo, 5 de maio de 2019

As velhas mães de Drummond

Hoje pela manhã estava a pensar sobre o tempo, sobre a vida, sobre as coisas comuns que assolam todos os seres humanos. Lembrei-me de uns versos de Drummond: "e ele velho embora/será pequenino/feito grão de milho". Ah... pobre Drummond, as mães mudaram muito desde quando escreveste teus versos.
Ontem, após alguns dias sem falar com minha mãe, ela ao me ver sem barba respirou aliviada. Confessou, meio abismada, que não acreditava ser o homem da foto, que minha prima lhe mostrara alguns dias antes, o filho dela. "Como pode este homem ser meu filho? Está velho! Não é meu filho? Estão brincando comigo!!!" 
Meu irmão, enxergando melhor que ela, ainda, e sempre sarrista, riu e disse: "Sim, é o Weslei! Certeza que é ele! Ao que, segundo ela, rebateu entre triste e desconsolada que não podia ser. 
É mãe, os filhos envelhecem, ganham rugas, peso, cabelos e barba brancos, ganham cicatrizes visíveis e invisíveis, erram, acertam, viajam, amam, odeiam, separam, devem; os grãos de milho viram espigas e só Deus sabe o que podem fazer. 
C'est la vie, diriam os franceses. O caminho natural das coisas. Os homens e mulheres nascem bebês e viram velhos ao longo do tempo. Claro que  este tempo demora, mas para quem está alguns anos à frente, ver os filhos envelhecerem é ter de aceitar que também estão envelhecendo, que a linha cronológica encurta em direção ao futuro e alonga em relação ao passado. É um exercício de longa e, às vezes, chocante revelação.
No fim das contas, acabou sendo engraçado. Impedi que minha mãe tivesse um enfarte, pelo menos a curto prazo, e ela como Drummond, talvez sem saber que ele exista, respirou aliviada ao ver seu grão de milho quase intacto. 
É Drummond, abre teus olhos, prepara tua pena e continua declarando que as mães, se tu fosses Rei do mundo, baixava a lei que elas nunca deveriam morrer. Porém, coloque nelas uns óculos, convide-as para um café, um vinho, uma cerveja e vamos celebrar a vida em movimento, enquanto todos existem, velhos ou jovens, recauchutados ou aceitando seus cabelos brancos.
E a vocês, mães do mundo, sim, os filhos envelhecem, engordam, ganham cabelos brancos, usam barba, óculos, erram, acertam, basta alongar as vistas ao passado e verão o mundo se repetindo, talvez com pequenas alterações, mas celebrando a vida, renascendo, morrendo, girando as folhas que caem das árvores e são varridas das calçadas. 


  A poesia é essa água que escorre pela boca e d esce pelas bordas  rompendo a barreira dos lábios. Diz e não diz f abula mundos intangív...