sexta-feira, 16 de março de 2018

Marielle

Era o mar e ela
                       Mariella
o mar era ela
                    Marielle
Mariella, mar e ela
                             Marielle.
Era o mito e Ela
                         Marielle

O teu silêncio grita
como as ondas do mar.

Em tua voz subtraída à vida
ecoam séculos de escravidão
anos de resistência.

Sobre teu corpo inerte
emerge o mito
e o mito é eterno.

Era de novo o mar e ela
                                     Marielle.

Sobre teu corpo de nau
submerge sepultado para sempre
o grito dos opressores esmagados.

Mataram Marielle
a cidade não era Maravilhosa.
Os tiros reverberam ainda
nos ouvidos da multidão,
que em respeitoso adeus
desfila gritos de agonia
pelas ruas do Rio.

Mataram Marielle,
mas o maremoto de seu riso
escancara as portas do Eterno

para que passe, corpo fechado,
Marielle mulher, Marielle mãe,
Marielle deusa, Marielle angorô,

que se levanta do crânio partido
e de punho erguido
recebe de Zumbi o manto rubro
[ainda manchado de sangue]
e o cetro de Rainha, deusa do mar.

Era de novo o mar e ela
                                    Marielle.

Sua última nau em cortejo
não pôde com a frágil madeira contê-la,
porque o mito desconhece da morte
os seus grilhões e faz do que era o fim
o começo.
E o que antes era o pó, a sombra e o nada,
agora é o tudo, que oculto
tece além da sombra do vulto.






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