Sábado chuvoso, saí logo cedo para ir à padaria. Comprar uns pães, algum bolo e algum salgado para passar o dia. Há dias que precisava chover e desde ontem chove. Isso deixou a cidade com um aspecto um pouco mais agradável. Parei o carro perto da Banca do Jonny Japa e fui caminhando o restante do percurso a pé, olhando a cidade, os seus passantes e pensando em algum motivo para, depois de mais de um ano, escrever uma crônica.
Com a pandemia e tomando remédios, parte da inspiração se dissipou e por mais que a procure, até mesmo embaixo do sofá, não a encontro. Difícil acertar a mão, encontrar o texto ideal para expressar os sentimentos. Ia eu com esses pensamentos até a padaria. O olhar curioso procurava uma vítima para meu texto, uma situação inusitada que pudesse ser material da crônica.
Na ida nada encontrei e voltei desanimado para o carro. Confesso que os finais de semana não têm sido fáceis para mim. A pasmaceira do dia, a inutilidade das coisas me deixam muito triste e reflexivo e não é porque está chovendo, nos outros fins de semana fazia sol e eu estava em pior estado.
Peguei o carro e comecei o percurso de volta para casa. À vezes, tenho deixado moedas no carro para emergências ou alguma outra situação, mas no dia de hoje nada trazia. Ao longe notei algo que vejo todos os dias, porém, sem me dar conta. Um rapaz debaixo da chuva com um cartaz nas mãos, passando de janela em janela pelos carros.
O rapaz sorria e fazia gestos com a cabeça como se compreendesse os nãos que recebia a cada parada. Ele é venezuelano e estava no semáforo da Avenida Colombo. Do outro lado da avenida de quatro pistas estava a esposa, também pedindo. Em cada cartaz, escrito num português sem jeito, a história deles de imigrantes em uma cidade do noroeste do Paraná.
Chove, mas mesmo assim, os venezuelanos estão pelas ruas de Maringá. Parados a cada semáforo, pedem socorro para a situação que vivem. Alguns nos chamam de hermanos e enfrentam a frieza de nossos gestos que se recusam a estender a mão.
Hoje chove e vi um casal de venezuelanos separado pelas pistas da Avenida Colombo. Eles pedem, não têm outra saída. Juntos no mesmo ideal de sobrevivência levantam seus cartazes e com eles suas esperanças são renovadas. Esperança de levar para casa o alimento que o filho espera, o dinheiro para a comida confortar o estômago e a certeza de que um dia serão aceitos na sociedade para onde fugiram.
Será que somos hermanos? Voltei para casa seco e em segurança, trazendo nas mãos o saco de pães que comprara na padaria, enquanto isso, o casal de venezuelanos tomava uma chuva fria nas pistas da Avenida Colombo, recebendo seu batismo de latino-americanos em terras estranhas e inóspitas à dor alheia. O que será que eles comerão esta noite? Não pude deixar de pensar quando levei o primeiro pedaço de pão à boca.
Um comentário:
Nossa!!! Eu aqui na minha bolha "crìtica", cada vez mais sentindo impotência. Somos hermanos? Somos brasileirobrasileiros agora?
Postar um comentário