Quem nunca amou, jogue a
primeira pedra! Ou a última! Antes que venha a amar, pois, pode ser que não
tenha tempo para atirá-la e seja obrigado a fazer como aqueles que pensavam em
apedrejar Jesus, mas de cabeça baixa se afastaram murmurando para si seus
pecados.
Amar é uma tarefa árdua,
que exige energia e disposição. Amar cansa, só não cansamos de amar e quando
pensamos que ele se foi, lá está o amor a nos espreitar em uma foto, uma
mensagem de celular, uma lembrança, um perfume ou um gesto que remete à pessoa
amada.
Amar é um ato obsceno.
Ele nos tirar o pudor, a razão, os padrões antes tão caros ao nosso discurso
social, que esvaziado em seus mais íntimos estertores, abjura de nós e nos deixa
nus em meio à rua.
O amor é obsceno. Ele nos
despe e nos deixa em estado de graça e ao mesmo tempo inseguros de quem somos e
se somos o que o objeto amado desejaria. O amor dói em sua ausência, tira-nos a
direção, o rumo e não há rotas seguras ou cavernas onde possamos nos esconder, seja
no Jalapão seja no Vietnam, o rosto do amor tem nome, pele e gosto
insubstituíveis.
Amar é um ato de
despudor. E nunca ficamos tão felizes que, quando despudorados, nos mostramos
ao outro sem amarras, sem roupas, sem barreiras, que talvez até um dia havíamos
imposto a passageiras paixões que habitaram nossas camas e até, quem sabe,
algumas páginas de diários.
A obscenidade do amor
está em jogar em nossa cara quem realmente somos. Aquele eu que até nós
gostaríamos de pôr para debaixo do tapete é despido pelo amor. E é amor na
última essência do que poderíamos imaginar, no mais alto grau de prazer físico
e necessidade espiritual, ou como queiram chamar.
O amor é obsceno e sempre
estamos despidos diante dele, desarmados, sem chão ou sem horizonte. Amor só se
satisfaz com o amor que nos falta. Sem este amor que nos despe, não somos
ninguém e por mais que nos vejam pelas ruas e julguem saber quem somos, só
aquele que nos ama é capaz de nos conhecer.
O amor é obsceno, mas
mais obsceno é viver sem ele, antes estar nu diante de quem nos completa, do
que vestidos diante de quem nos deseja. O amor é obsceno, mas não aceita
qualquer nudez, porque a obscenidade do amor é reservada apenas para aquele que
nos conhece, para quem as palavras já deixaram de ser necessárias, para quem a
luz nada mais tem de ensinar sobre o obsceno corpo que amamos.
Um comentário:
Wesley, seu talento é obsceno!
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