domingo, 3 de fevereiro de 2019

Macumba brasileira

Somos o país do carnaval
aqui é samba e futebol
alucinação geral.
Preto, puta e pobre é passado,
vivemos no país do BBB
e no reality show da vida
bala, boi e bíblia
põem tudo preto no branco.
A natureza é grande
e a pátria é mãe gentil,
tem até Cristo de braços abertos
e ele nem usa colete à prova de balas.
Dormimos eternamente,
mas o berço não é esplêndido,
falta água, comida, segurança
e os turistas querem ver as bundas
mulatas rebolando ao som da bateria
das comunidades no grande
carro alegórico que é o Brasil.
Terreiro virou palco de samba
e as gringas empolgadas
rebolam bundas magras
ao som dos atabaques e agogôs.
Enquanto elas se avermelham
ao som e à luz do céu profundo,
os negros alvos tombam
nas areias de Copacabana.
À noite, a garota de Ipanema consola
os turistas ao piano de Tom Jobim
em bailes chiques e privados,
onde os negros servem as mesas.
Mulheres são assassinadas
e sem rostos, mudas, caladas, assistem
as turistas brancas nos camarotes
da Marquês de Sapucaí.
Morro é exótico, beco é poesia
e um tirinho dispara o pó branco
do barato geral.
Tiros são confundidos
com fogos de artifício
e os olhos brilham no país
para inglês ver: very good!
Os turistas sambam até tarde
e os brasileiros logo cedo
dançam conforme a música,
esmagados nos vagões
do holocausto diário.
Enquanto os turistas
tomam a benção ao Pai-de-Santo,
tem neguinho fechando o corpo
para não morrer na encruzilhada
e da linha vermelha fugir,
porque os gringos tomam
a ponte a área no Galeão,
mas no lotação os corpos tombam
e viram números do horror
nos jornais das oito da noite.



Nenhum comentário:

  A poesia é essa água que escorre pela boca e d esce pelas bordas  rompendo a barreira dos lábios. Diz e não diz f abula mundos intangív...