Abro maquinalmente os olhos
como quem abre janelas,
porém, não há quase nada lá fora
que possa me interessar.
A despeito dessa mágoa cotidiana
tampouco encontro dentro de mim
algo de verdadeiro interesse.
Passam os dias, as semanas, os meses.
O calendário muda, o ano muda
só minha estátua em silêncio contempla
o trabalho invisível das horas.
Elas nada dizem do que sou,
desconhecem os meus medos e as fantasias
com que visto as manhãs.
As horas me devoram,
um relógio de pulso com suas lâminas
de tesoura irregular picotam momentos
enquanto uma fina ponta de segundos
tece passados, memórias e esquecimentos.
Também eu abro os olhos mecanicamente,
respondendo aos impulsos de um cérebro excitado
e devoro as horas numa fome intensa
por mais horas, por mais tempo, por mais vida.
Em 1979 abri a janela do tempo
desconhecia por completo o que havia dentro de mim.
Trinta e oito anos depois abro os olhos todos
os dias e ainda nada sei a respeito do que sou.
Mesmo assim, continuo a abrir janelas
para ver se encontro em algum canto do mundo
aquilo que perdi dentro de mim.
terça-feira, 16 de janeiro de 2018
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