segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Avise a Bandeira

Avise a Bandeira
que não sou amigo nem inimigo
apenas um conhecido,
mas que encontrei a estrela da manhã.
Realmente ia nua
como descrita em seu apelo
nua em pelo,
a vi de costas
e sua bunda nua
qual a lua
reluzia pela manhã.
Desci a ladeira
e a estrela da manhã me abraçou
ultrajada até a última baixeza.
Pelo seu corpo havia dentadas
marcas das bocas dos marinheiros,
dos funcionários públicos, dos sargentos,
e até do Leproso do Pouso Alto.
Agora, também tem meus dentes
e minha boca nela tatuei,
nem precisei, como meu nobre colega,
comer terra ou fazer cavalhadas.
Embalei a estrela da manhã
em meus braços, com minhas mãos
em conchas amparei seus seios
e matei minha fome de outras eras.
Diga a Bandeira, a Manuel,
que se vier, venha armado,
não serei presa de Misael, nem cairei
na rua da Constituição,
que reze uma Ave-Maria,
que chore todas as virgens que conheça,
que a estrela da manhã
já vinha descabaçada
e assim como ele, também quero para mim
a estrela da manhã,
pura ou degradada
além de sua última baixeza.
E quando chegar não estarei em Mata-Cavalos,
Catumbi ou Todos os Santos,
que estarei na Pasárgada
porque lá, eu sou filho do Rei. 

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