sábado, 31 de maio de 2014

O livro
O romance
A solidão das palavras.

A vida
O romance
As palavras da solidão.

O narrador sempre se vinga:
seja do herói no romance,
seja do leitor na vida.

Difícil saber quando nos perdemos.
A vida é curta
o caminho é longo.
Será que há conserto?
Ou apenas a morte poderá
colar todos os cacos?

Inquietação

Dedos ligeiros
batucam sobre a escrivaninha
uma música nervosa.
As pernas no balanço frenético
dançam fora do ritmo
protegidas pela mesa.
Os neurônios agitam-se em ondas convulsivas
sinto um extremo mal-estar,
porém não posso vomitar a mim mesmo.


quarta-feira, 28 de maio de 2014

En algun lugar de la Mancha.....

Para quem está apaixonado
Dulcinea sempre estará encantada.



Amigo, Sancho Pança, sei que tens razão
mas não me desiluda,
preciso da ilusão para viver.



Amigo, Sancho, não me tenhas por louco,
mas um dia vestirei saias 
e me chamarão de madame.


"Emma Bovary c'est moi"
A vida em bifurcação
os pés resvalam
o chão foge
segundos convertidos em eternidade
travam na garganta
a voz obrigada a decidir.
O silêncio é o grito
à espera de desaparecer a bifurcação.
Porém, ali estão as veredas
impossível permanecer na encruzilhada.


domingo, 25 de maio de 2014

Vermelho e Negro

Ela saltou da ponte por amor.
Mergulhou ao ar livre:
olhos fechados, corpo estirado,
chocou-se com o negro do asfalto.
Ali deixou seu coração estilhaçado
e seu sangue tingiu de vermelho
a  negra rodovia que levava até seu amor. 

Na bomba do mate
beijei teus lábios pela primeira vez,
eram quentes e úmidos
e repeti todas as vezes
que me devolveu a cuia.
Suguei o líquido como quem
bebia de tua boca o 
anúncio dos beijos futuros.



O que sei de mim?
As pessoas dizem que me conhecem
mas não sei quem sou.
Serei apenas uma representação
refletida nos olhos dos outros?
Quando serei eu?
Quando poderei me mostrar
sem medo de ser odiado?

No sofá havia memórias
o gato espreguiçava-se a me olhar
e suas patas macias
evocavam leves carícias
de mãos ausentes que antes
desenhavam a figura de meu rosto.


Ainda hoje não sei o que é o amor
e quando quis decifrá-lo
ele me devorou deliciosamente
sem dar ocasião à defesa.

Na vida sempre somos passageiros,
vedado nos foi o volante.
A ilusão é acreditar numa estrada reta.
A vida está cheia de curvas,
surpresas ocultas a cada quilômetro.
Nunca sabemos em que ponto desceremos
e nem quem subirá no ônibus.
Não escolhemos o passageiro que vai
ao nosso lado e nem quando ele descerá.
Alguns passageiros nos surpreendem,
não queremos que desçam nunca
e se descem lamentamos a falta
de um retrovisor que nos permita
dar a menos, o último adeus.

sábado, 24 de maio de 2014

"Te amo!" Expressão desigual.
Valores distintos a encarnam
para quem a recebe.
Os olhos que se encantam comigo
nada dizem se não são teus olhos.
Assim, qual estátua indiferente
me deixo olhar por teus olhos,
retribuindo-lhes o gesto duro de séculos
de quem foi esculpida e abandonada
por aquele de quem sempre esperou
a expressão estereotipada do "te amo"
e o olhar admirado e contemplativo
dos tolos apaixonados.

sábado, 10 de maio de 2014

Apago a luz de teu sorriso
com os lábios meus.
Os olhos fechados
fazem do dia noite.
E eu qual Josué
seguro a lua deste momento,
para que o amor se complete.
E quando nasça o dia
você e eu, mãos dadas,
enfrentemos juntos a guerra da vida.

Adeus pela manhã

A cama arrumada,
o guarda-roupa vazio.
A água não desce pelo chuveiro
espalhando pelo quarto o aroma
de tua pele de espuma.
Os chinelos fugiram do 
tapete ao lado da cama.
Um silêncio consome a casa.
As cortinas estão abertas
e apenas o sol me faz
companhia na sala.
 

Inspiração......

Dilatam-se as narinas
nada do ar entrar.
Olho o céu, uma andorinha voa.
Remexo o baú da memória,
passeio pelo quarto em desordem,
arrumo a escrivaninha,
nenhuma centelha, nenhum lampejo.
Onde te encontras, Inspiração,
que não te vejo?
Em que cama te deitas,
enquanto eu, amante, 
te espero no quarto abandonado?
 
 

Reencontro

Nó na garganta
Mágoa antiga
Emoção presa
Mãos suando
Balbucio
Arritmia cardíaca
Deslizes antigos 
Selam o silêncio
Do casal que
se entreolha aflito. 

Hoje fui traído pelas palavras.
Longe de mim devem estar
a fazer companhia a outro poeta.
Fugiram ao encontro marcado.
Procurei-as e encontrei 
a página em branco.
Em vão busquei as palavras
a caneta prendeu-se aos meus dedos
enquanto as palavras passeavam
por outras estrofes e versos.


Descoberta

Doce engano a distância.
Tenho-te tão perto.
É sufocante.
Impossível tocar-te.
Quilômetros nos afastam.
Isso magoa o coração.
Descobri que tenho um retrato teu,
 que a distância não conseguiu apagar.
Dentro de mim há uma polaroid
que dispara flashs toda hora.
Dura descoberta
Falsa distância.
No quarto escuro de minha memória
Revelo inúmeros retratos teus.

Não precisei olhar no espelho
para ver as mudanças.
Os cabelos brancos, algumas rugas
nada disso é pior que não me conhecer.
Há uma imagem interna
uma angústia pesada
que faz o coração tremer.
É a instabilidade que incomoda
muda-me de dentro para fora.
Não tenho a vantagem de Dorian Gray.
Carrego-me dentro de mim
E é assustador.


quinta-feira, 8 de maio de 2014

A sombra de uma mão
acompanha a composição.
Sutil silhueta de tempos passados
evocação de imagens congeladas.
Esse leve traço ausente
persegue a mão presente.
Memórias mudas
desenhadas pela mão,
que empunha a caneta
tal qual picareta,
quebrando as rochas e paredes.
Assim, o ferro pontiagudo
põe a nu a relíquia do passado.
Mas qual mão a desnudou?
A sombra com a picareta,
ou a mão presente com a caneta.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Tenho pena de dormir
há tantos sonhos nos livros
e tantos pesadelos na vida noturna.
Sou atraído pelas palavras
repelido pela cama.
Fujo dos fantasmas dos pesadelos
em páginas de doce romance.
Os livros ficarão solitários
soltos na escrivaninha.
Também ficarei só
no mundo dos pesadelos.
Nenhum herói me estenderá a mão,
os livros estão fechados
e eu perdido em labirintos,
sufocado pela escuridão.

 

Passarela Noturna

Entre os paralelepípedos da 9 de julho
brilham estrelas noturnas
pernas e saltos desfilam corpos
sem identidade em busca de cachê.
Bocas vermelhas, unhas longas
minúsculas saias deixam
antever o sexo adornado de lingerie.
Ali no chão de pedra e brilho
estas estrelas noturnas desfilam
em carros de luxo dos clientes.
Vida sonhada, ilusão rápida
esfacelada pelo gozo brutal
do troglodita capitalista
que cospe a estrela na
próxima esquina.
 Ribeirão Preto - 2008-2012
Palavra lâmina
cortes profundos
cicatrizes horrendas.
O fio afiado dos significantes
dilaceram a alma com significados.
Porém, a palavra ofensiva
carece do poder de cura.
Melhor guardar as palavras
na bainha do silêncio.
Ali caladas, não
declararão guerra a ninguém. 
 

domingo, 4 de maio de 2014

Há dias de solidão....
a companhia de si mesmo
preenche os vazios
e perturba como uma multidão.


Passei pela casa,
ela dormia com seus habitantes.
Apenas as memórias exalavam
um odor de passado
vindo da cozinha.
A mesa com seus talheres mudos,
 a réstia de alho pendurada,
o carvão apagado no fogão,
mas como ardia meu coração.
A fumaça do passado
fez arder meus olhos,
fugi da cozinha lacrimejando
após soprar as brasas da memória.

TEUS DEDOS

Observo o passear de teus dedos
pelas páginas do livro.
Roçam delicadamente as palavras
indiferentes aos toques macios.
Tenho ciúmes dessas ingratas
que têm de ti o que
desejo para mim.
E eu ali olhando-te
livro aberto, páginas ao vento
esperando que me leias,
ou ao menos folheei-me
com teus dedos.

Poema orgasmo:
Explosão de sons lancinantes.
Descontrole total
Boca trêmula
Olhos vidrados
Relaxamento brutal
Fadiga momentânea.
Sílabas métricas 
roçam a língua
lacerando palavras
entrecortadas na
compreensão mútua do amantes.

 
Teu sorriso imprimiu
em mim a marca
de uma violenta paz
que desarmou meu 
espírito em guerra.


quinta-feira, 1 de maio de 2014

Vesti-me para o inverno,
na lapela do casaco
uma flor.
Estou cansado de flores
apenas na primavera.
No meu poema as flores
vivem no frio,
não há folhas no chão
e há pássaros nas árvores.

Sou um eu-lírico
fadigado do anonimato.
Quero meu nome,
exijo minha identidade
perdida em séculos
de versificação.
Emprestado a inúmeros poetas
que covardemente se ocultaram
atrás deste termo.
Sim, virei um mero termo,
vocábulo de dicionário poético,
porém tenho mil faces
e o sentimento do universal
cabe em mim.



Deixe que o poema durma
em sua calma e seu silêncio.
E quando ele gritar
e não mais suportar sua voz,
então liberte-o
para que grite em outros ouvidos.


  A poesia é essa água que escorre pela boca e d esce pelas bordas  rompendo a barreira dos lábios. Diz e não diz f abula mundos intangív...