sábado, 15 de fevereiro de 2014

Lamento

PASSÁRO

                 GAIOLA

CANTO

                LAMENTO

SEM ASAS

                             SEM VOO

TO       DO     UM     C   É    U

eumaúnicaabóbodagradeada.

SEM JULGAMENTO 

                                    CONSTANTEMENTE

PIA O PÁSSARO

                               SUA ETERNA

CANÇÃO DE CONDENADO. 


Interditos

A palavra adiada
retida na fonte.
Sempre parada nos
lábios entreabertos.
Aquele adeus não dito
a declaração de amor interrompida.
O abraço não dado
as mãos não apertadas
a eterna suspensão do ser.
O beijo não dado
o lamento do passado.
Sempre um senão;
uma interdição.
A vida como um eterno
ensaio daquilo que não foi.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Esta semana escrevi apenas um poema,
havia nele as graças de menina.
Tentei me conter, mas foi inútil
fugir de sua imagem.
Estampei no poema suas formas nubentes
iluminadas pela lua de um céu vestido de estrelas.
A cada verso te desnudei mais
até encontrar apenas as linhas de teu corpo.
Por fim, nua, abandonei teu corpo
à página adornada por tuas formas.



segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Jacarandá

O violeta das árvores
tinge o azul do céu
em pleno verão com uma cantiga
monótona de cortejo fúnebre.
Sob o calor as flores roxas
riem do alegre sol e desafiam-no
com seu manto violáceo
do qual se vestiu a verde árvore.
Princesa entre as demais copas,
impassível à brisa jocosa,
diz ao sol quer quer ser
primavera em pleno verão,
por isso se vestiu de roxo
a ostentar seu luto pela estação que se foi.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Páginas vazias



Páginas vazias,
vozes silenciosas, veios sensuais,
Por onde deslizam
O barco da sensualidade.
Deitada a folha desnuda
Acariciam os dedos
Inquietos armados de forte pluma
A querer gerar em sua
Superfície sem curvas
O conteúdo indizível
Do amor plausível, visível,
Invisível da palavra lua,
Nua, tua página pura
Corrompida pela tinta.
Dedos hábeis de caricias
Criam curvas com a tinta
Da pluma que escorrega
Lentamente pelos caminhos
Desconhecidos do arredondado
De teus seios de lua a iluminar
Teu ventre de pampas imensos.
A página em branco tridimensionaliza
Tuas formas apenas imaginadas,
Enquanto meus dedos hábeis de amor,
Deslizam pelas linhas retas,
Curvadas ao doce toque de minhas falanges.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

En directo del Clarín

Por la calles de Buenos Aires...

- ¿Querés una moneda, nena?
- No!
- Podés comprarte una coquita.
- Pero no puedo comprarme un culo.
- ¿ Por qué querés comprarte un culo?
- Porque con un culo puedo ganarme la vida.

Variantes

Há um fogo que não compreendo
e não tenho água para apagar.

Dos fogos desconhecidos
não há fonte que jorre o suficiente
para apagar as chamas.

A água não apaga a dor do fogo.

Encontrei um fogo que não posso apagar,
uma água que não posso beber.

O brilho da água e do fogo
partilham o mesmo encanto.

Há fogo na floresta
traído pela água da tempestade.

Há amores que são como fogo
nunca se saciam de tudo devorar.

Há águas que são como córregos
insuficientes para quem deseja o oceano.

Impossível navegar no córrego.
Impossível se contentar com a chama da vela. 

Ginástica

Encontrei na cama um par de pernas,
eram ligeiras e suaves.
Ora brincavam maliciosamente comigo,
fechavam e se abriam como tesouras,
ora corriam imaginariamente,
fazendo-me atleta de suas pistas.
Corri após estas pernas a noite toda,
numa ginástica de incessantes mergulhos.
Enfim, virei alpinista de montanhas geladas,
escalando dos artelhos às virilhas.
Porém, o solo cedeu,
caí do gelo para um mar de brasas,
sendo devorado pelo magma de teu vulcão
despertado após longos anos.

  A poesia é essa água que escorre pela boca e d esce pelas bordas  rompendo a barreira dos lábios. Diz e não diz f abula mundos intangív...