Onde a poesia?
Desço a este inferno mudo das palavras
que se calam diante dos fatos.
Emudecidas estão diante do horror cotidiano
da fome, da violência, da política.
Onde o poeta?
Esse ser que se arrisca entre as ruas
tropeçando na indiferença das pessoas.
As avenidas são binárias
as ruas seguem um único sentido
e todos estão de costas.
Torço para que brote do asfalto uma flor
que gentil alguém abra a janela
e escute em sua homenagem uma serenata invisível.
As crianças estão engaioladas nos parques infantis
Não se escuta nas ruas os gritos ardidos dos pequenos seres de sonho.
Submersos estamos no pesadelo
ninguém mais contempla o sol amarelo
todos usamos filtros solares
e em cápsulas tomamos a dose diária de serotonina
todos sorriem encabulados
e dizem ser o Alzheimer a doença do século.