Quando tinha 7 anos
o Réveillon era um evento.
Ganhávamos do dono da mercearia
uma garrafa de vinho suave
e um calendário de santo
que mamãe pendurava atrás da porta.
Sentávamos em frente à televisão
e juntos, quase de mãos dadas,
aguardávamos a queima de fogos de Copacabana.
Logo cedo, o frango cheirava no forno,
às vezes um pedaço de pernil também,
o macarrão e a maionese acompanhariam o almoço.
Não, o mundo não era perfeito,
mas tínhamos a vida toda pela frente
e nos permitíamos sonhar.
Hoje, o ano novo, não é tão novo mais,
ganhei a consciência dos calendários,
as relações se complicaram
e o tempo escorre entre meus dedos.
Num súbito ato de rebeldia
ainda posso estender as mãos
nem tudo está no quadro da memória.
Diante de meus olhos meio cansados
uma menina de 7 anos devora cerejas
e sonha uma vida inteira.