segunda-feira, 13 de junho de 2022

Fora de mim

Meu olhar atravessa a taça

ultrapassa o vinho branco

com que mato minha sede.

Sede de outras águas

de outras paragens

onde não posso estar.

Viajo pela borda da taça

cuidando para não cair no abismo

de onde jamais poderei sair.

Encontro-me fora de mim

não posso ser eu

não posso mais carregar meu corpo

minha nacionalidade

neste país que mata negros e índios.

Sonho com uma França distante

e com a liberté, egalité e fraternité

dos tristes exilados. 

Sonho com uma nova pele

um novo corpo, uma nova voz

que substitua meu eu dilacerado.

Bebo meu vinho

em busca do meu eu que deixei

longe daqui. 

Não, não posso mais ter este RG,

não posso mais olhar onde nasci

quero o exílio, quero a pátria que escolhi.


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