Meu olhar atravessa a taça
ultrapassa o vinho branco
com que mato minha sede.
Sede de outras águas
de outras paragens
onde não posso estar.
Viajo pela borda da taça
cuidando para não cair no abismo
de onde jamais poderei sair.
Encontro-me fora de mim
não posso ser eu
não posso mais carregar meu corpo
minha nacionalidade
neste país que mata negros e índios.
Sonho com uma França distante
e com a liberté, egalité e fraternité
dos tristes exilados.
Sonho com uma nova pele
um novo corpo, uma nova voz
que substitua meu eu dilacerado.
Bebo meu vinho
em busca do meu eu que deixei
longe daqui.
Não, não posso mais ter este RG,
não posso mais olhar onde nasci
quero o exílio, quero a pátria que escolhi.
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