Escrevo-te e faz calor
um intenso calor de setembro
que a primavera não teve o dom de deter.
Sinto minha pele suar
e imagino-te assim nua
a suar distante de mim.
Imagino-te despida
que é para melhor mapear-te
e tento prender-te entre os dedos
enquanto escrevo esta carta.
Sei que não me ouves nem me sentes
e grito-te como se pudesses me ouvir
na tua ausência de todas as horas
a roçar-me a pele da lembrança.
Faz calor e desejo um banho gelado
para acalmar-me estes pelos eriçados
esta vontade de ti que me tortura
mesmo não sabendo-te minha.
É mais distante que te sinto melhor,
espiralada em fumos e incensos.
Sobes como vapor quente pelos ares
e o sol queima-te a face.
Faz calor de um intenso úmido
a molhar-me as palmas das mãos.
Sinto a fronte suar e o coração acelerar,
são lembranças de um tempo
que te tive entre meus braços.
Hoje faz calor, é bom insistir, e sinto meu corpo suar
são as ausências que nele se ressentem
se amolece e escorre pelas bordas
e faço-me úmido, ausente, quente.
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