segunda-feira, 20 de setembro de 2021

Reminiscências de um verão

Escrevo-te e faz calor

um intenso calor de setembro

que a primavera não teve o dom de deter.

Sinto minha pele suar

e imagino-te assim nua

a suar distante de mim.

Imagino-te despida

que é para melhor mapear-te

e tento prender-te entre os dedos

enquanto escrevo esta carta.

Sei que não me ouves nem me sentes

e grito-te como se pudesses me ouvir

na tua ausência de todas as horas

a roçar-me a pele da lembrança.

Faz calor e desejo um banho gelado

para acalmar-me estes pelos eriçados

esta vontade de ti que me tortura

mesmo não sabendo-te minha.

É mais distante que te sinto melhor,

espiralada em fumos e incensos.

Sobes como vapor quente pelos ares

e o sol queima-te a face.

Faz calor de um intenso úmido

a molhar-me as palmas das mãos.

Sinto a fronte suar e o coração acelerar,

são lembranças de um tempo

que te tive entre meus braços.

Hoje faz calor, é bom insistir, e sinto meu corpo suar

são as ausências que nele se ressentem

se amolece e escorre pelas bordas

e faço-me úmido, ausente, quente.

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