terça-feira, 28 de setembro de 2021

Fuja em frente

 Hoje é dia de sorrir

chorar não é mais uma opção

saia de casa, deixe a porta aberta

quem sabe o amor ou o ladrão entre

e retire de seu peito a dor.

Bote um sorriso no rosto,

passe um batom ou tire a barba

jogue com a sorte

faça uma ligação ou mande uma mensagem

para aquele antigo contato

que já habitou seu corpo,

que já gozou em sua boca do prazer.

Seja como a aranha, teça tua teia

de amizade, de amores, de ex-dores,

mas não fique parado,

bote um tênis ou um salto alto

e ande, dance, pule aquele antigo pensamento

e deixe a porta do passado fechada

atrás de si, para que ele não lhe persiga.

Não deixe rastros, só marque passo à frente

e marche, porque parar não é o ideal

corra, acelere o passo

e quem sabe na esquina ou na rua ao lado

surja alguém também a fugir do passado. 

segunda-feira, 20 de setembro de 2021

Reminiscências de um verão

Escrevo-te e faz calor

um intenso calor de setembro

que a primavera não teve o dom de deter.

Sinto minha pele suar

e imagino-te assim nua

a suar distante de mim.

Imagino-te despida

que é para melhor mapear-te

e tento prender-te entre os dedos

enquanto escrevo esta carta.

Sei que não me ouves nem me sentes

e grito-te como se pudesses me ouvir

na tua ausência de todas as horas

a roçar-me a pele da lembrança.

Faz calor e desejo um banho gelado

para acalmar-me estes pelos eriçados

esta vontade de ti que me tortura

mesmo não sabendo-te minha.

É mais distante que te sinto melhor,

espiralada em fumos e incensos.

Sobes como vapor quente pelos ares

e o sol queima-te a face.

Faz calor de um intenso úmido

a molhar-me as palmas das mãos.

Sinto a fronte suar e o coração acelerar,

são lembranças de um tempo

que te tive entre meus braços.

Hoje faz calor, é bom insistir, e sinto meu corpo suar

são as ausências que nele se ressentem

se amolece e escorre pelas bordas

e faço-me úmido, ausente, quente.

sexta-feira, 17 de setembro de 2021

O pássaro

 O pássaro preso em minha garganta

pia agonizante seus instantes de vida.

Não sei quando nem como engoli esse pássaro

que aprisionei dentro de mim.

Fui gaiola, fui prisão

impedi seu voo

e ele sofreu preso ao meu corpo.

Quando abri minha boca

o pássaro cantou seu último canto de liberdade

e expirou à hora da ave-maria .

Se pudesse cantava,

mas só sei falar

e lamentar a morte do pássaro.

Convite

Ei...vem cá

tira a tua roupa,

mas não assim

como se estivesse no médico,

que quero ver tuas nuances

quero ver como te despes

para o crime de nossos corpos.

terça-feira, 14 de setembro de 2021

Percursos

Tenho as veias dilatadas

e um rio branco-vermelho

corre pelas margens de meus olhos.

Sou errante pelo caminho da vida

dou murros em pontas de facas

abro canivetes, soo a ameaças

e durmo solitário com a cabeça

em uma pedra.

À noite, porém, não tenho a escada de Jacó,

não subo aos céus, nem vejo Deus.

Choro solitário à beira do Rhône

e minha vida corre com as águas.

O passado espanca-me aos berros

enquanto eu, calado, colho pedras

com um sorriso nos lábios.

sábado, 11 de setembro de 2021

Liberdade

Há um pássaro morto sobre a mesa

suas asas estão quebradas

suas pernas estão amputadas

e o voo da manhã aterrissou 

nas mãos do autor de sua morte.

Um canto de ilusão ficou na memória

de quem ouviu seus gorjeios,

mas de quem era a voz

que gritou perigo ao amante do ar?

Tenho o peso do pássaro morto

em minhas rudes mãos.

O pássaro ousou sonhar

novo céu, nova pátria

onde só havia espaço para a escuridão.

terça-feira, 7 de setembro de 2021

Da independência à morte

Que povo é esse

que no dia da Independência

pede grilhões?

Onde estão as vozes da liberdade

o condor de Castro Alves

o abolicionismo de Luiz Gama?

No dia da liberdade

pedimos a prisão de nossas almas

o silenciamento de nossas vozes.

Regredimos à infância 

de um país sem rumo,

entregamo-nos às mãos de um tirano

e oferecemos as costas à chibata.

Aceitamos comer pouco

beber mal e ter pesadelos

com a cabeça ao travesseiro.

Onde o 7 de setembro, onde a liberdade?

O colonizador ri às nossas costas

vendo-nos entregue a tão vil cidadão.

  A poesia é essa água que escorre pela boca e d esce pelas bordas  rompendo a barreira dos lábios. Diz e não diz f abula mundos intangív...