sexta-feira, 30 de outubro de 2020

III - da sorte dos poetas

Há diante de nós
somente a morte certa
e o espanto duradouro
da vida.

Somos terra, somos pedra
soltas no chão
à espera do amor
que nunca vem.

Perdoai-nos, Senhor,
porque não sabemos amar
porque nos damos como quem ama,
mas é apenas desespero,
medo de acabar
de não encontrar no outro a fé
que faz cessar a busca.

Perdoai-nos, Senhor, a nós poetas,
que não sabemos esperar
nem a morte, nem a vida.

Nessa ânsia de gozo sucumbimos
à doce mão que nos afaga
na finitude dos gestos
incapazes de nos prender.


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