Esses dias conversando com uma amiga nos surgiu o tema do não. "Não", dói; é inevitável, mesmo que nos preparemos e falemos ao mundo que se a resposta for "não" estaremos preparados e vida que segue. Basta, porém, chegar o "não" e nos vemos chorando, tristes e toda aquela positividade vai pelo ralo.
Somos seres humanos e gostamos de aceitação. Até aqueles mais atirados que dizem tocar o "foda-se" têm seus momentos de insegurança diante do "não". E não importa o tamanho da pessoa ou da idade. Cada um reage ao "não" de uma maneira. Alguns desistem dos planos, outros ganham mais forças e querem provar ao mundo sua razão e o "não" vai movendo o mundo.
O "não" também vende muitos livros. A livrarias estão cheias de livros de auto-ajuda, de como ganhar dinheiro, de como fazer sucesso, de como tocar o "foda-se", de como conquistar a pessoa amada, de como Deus te compreende e te aceita como é, ou seja, cheio de "nãos" na vida. Afinal, Jesus gosta dos rejeitados. E nada como um bom "não" para estarmos nas filas da igrejas, recebendo uma benção, uma missa, tomando um passe, recebendo um axé, tirando a sorte no Tarô. O "não" move o mundo e suas finanças.
Mas e o "sim", ele dói? Será que o "sim" tão esperado tem o poder de nos transformar ou acontece como passou a Saramago, que após receber o Nobel de Literatura olhou para sua Pilar e disse: "Y qué"? E "daí"....esperei tanto por isso e do que vale esse prêmio agora. Veja, não é um "e daí", como o do presidente do Brasil, não é "e daí" de um qualquer, é de um dos maiores escritores da Língua Portuguesa. Ele recebeu um "sim" e com ele a pergunta existencial: o que faço com ele agora?
Em As visitas do Dr. Valdez teve um sim que doeu muito. O personagem pediu a filha de sua amada em casamento, para chamá-la aos brios e ver se ela dizia não e aceitava seu amor de homem. Para surpresa dele, ela aceitou o pedido e lhe deu a filha feia para casar. Sem saída, casou. O "sim", neste caso doeu e enterrou a paixão por aquela que veio a ser sua sogra.
É...o "sim" pode doer tanto quanto o "não". Tudo depende das circunstâncias. Quantos de nós tínhamos planos considerados grandiosos e de "sim" em "sim" fomos chegando a ele. Alguns anos depois, vem a idade, as desilusões e nos perguntamos se realmente aquele caminho era o mais acertado.
O "sim" pode nos levar ao comodismo, a engordar nossas barrigas, a ancorar o barco em alguma encosta, enquanto há um oceano lá fora nos esperando. E aí, quando cansamos do "sim" já não temos mais coragem de sair a mar aberto e estacionamos. O "sim" pode doer como um peso que amarramos ao pé. Nem reclamar nos dão o direito. "Você teve tudo nada vida", "Quantos gostariam de estar em teu lugar", "Você é um ingrato". Pois é, o "sim" na hora errada pode nos levar à ingratidão e a dores desnecessárias.
Mas, será que o "sim" dói mesmo? Penso eu que não. Gostaria de ter "sim" todos os dias, evitar psicólogos, psiquiatras, choros, traumas. Nada como um "sim" para me alavancar. O "não" me cansa, me tira do sério e me obriga a lutar mais pela mesma coisa. Lutar é bom, mas receber "sim" é ótimo.
Antes de terminar, deixo mais uma consideração para não dar a questão por fechada: às vezes o "sim" dói, tenho de admitir. Esta semana perguntei ao oftalmologista: Terei de usar lentes multifocais? E ele: "sim". Esse sim doeu e bastante, inclusive no bolso.
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