quarta-feira, 22 de abril de 2020

A flor

Obscena flor branca,
destituída de cheiros,
tuas hastes verdes
não sustentam do suor a vida.

Abrem-se as pétalas
que renunciam o chão;
eternas violam o tempo
dos relógios e das primaveras.

Flor brutal, animal calmo
que repousa dentro do vaso.
Desafia-me a olhá-la
sem cio, sem gozo
frio mausoléu antecipado.

Tenho o prazer da carne
a putrefação remidora
o adeus dos gozos terminados
a memória que te foi negada,
branca orquídea de plástico,
a tua indiferença te condena.

quinta-feira, 9 de abril de 2020

Las divinas palabras

Sin la palabra
no habría seducción
ni los errores de la creación.
El hombre sería un proyecto
No tendría Dios la voz
ni la sierpe atroz
chochearía a los oídos de Eva.
Sin la palabra no habría
el falso "yo te quiero"
ni el verdadero "yo te odio"
Muchos jamás conocerían la cama
donde son dispensables las palabras
desde que antes bien puesta
con suaves sonidos del signo.

terça-feira, 7 de abril de 2020

O pássaro

Mudo, calado
aprisionei atônito
o pássaro
que em mim habitava.

Com a dor da alegria
matei a fome de vida
do pássaro.

Não alimentei suas esperanças
que entre as grades cantava
pela manhã.

Para quem não sonha
o canto do pássaro
fere a alma.

Guardei-o entre as costelas
e na escuridão total
o pássaro ouvia intermitente
um coração que lentamente batia.



quinta-feira, 2 de abril de 2020

A morte no ar

Fechamos os olhos
para todos os genocídios.
Ruanda, Moçambique.
Congo, Angola.
Lavamos as mãos,
nos fizemos inocentes
comemos em pratos fartos
a dor de nossos esquecidos.
Desviamos os olhos dos corpos
mortos bestificados.
Bebemos a água pela metade
dos copos que tocamos,
enquanto muitos morriam
com a boca seca sedenta.
Dormimos inculpáveis
em travesseiros de penas
sem atentar para as cabeças
que sobre pedras adoeciam.
Hoje morremos pelo ar
os abraços foram impedidos
os corpos partem sozinhos.
Morremos sem ar
e nem todo oxigênio estocado
nos sacia a sede de vida.
Culpamos a tão distante
China de nossas infâncias.
Muitos são devorados
pelo medo e pelo pânico
de morrer isolados,
sufocados em uma sala
cercados por estranhos.
Os corpos voltaram a cair
e cada um cuida de sua rica
ou pobre vida.
O ar de outros genocídios
cobram o preço
de vidas ignoradas.
Caem Espanha, Itália,
França, Alemanha
Reino Unido e Estados Unidos.
Todos morrem pelo ar,
ainda vivendo o sonho da inocência
ignorados por um Deus que lhes castiga.



  A poesia é essa água que escorre pela boca e d esce pelas bordas  rompendo a barreira dos lábios. Diz e não diz f abula mundos intangív...