Romance bom é assim, só o título já vale a pena. Demorei muito a me interessar pela literatura de Edney Silvestre. Talvez, por preconceitos e receios de ele ser um repórter da rede de televisão Globo, talvez por outras leituras que me corriam pelas mãos e meus olhos ávidos por novas aventuras decidiam-se a percorrer outros caminhos.
No entanto, agora, estou a ler o romance. Sei que foi prêmio Jabuti, que deve ter sido lido por inúmeras pessoas e que só o descubro quase uma década depois da premiação. Mas, eis que o tenho diante de mim em uma tela de Kindle, justo eu que resisti por tanto tempo à leitura longe das páginas de papel.
Não, não falarei do romance. Falarei do título, do provocante título de "se eu fechar os olhos agora". Quantas pessoas, quantos fatos, quantos eventos posso lembrar "se eu fechar os olhos agora"? Como selecionar o fato ideal, desencavá-lo da memória, do único espaço em que ainda temos a impenetrável privacidade? É bom lembrar que da nossa memória só podem saber o que contamos.
"Se eu fechar os olhos agora", o que posso lembrar, que mundo posso visitar, que saudades sentir, que eventos reviver? "Se eu fechar os olhos agora", que fotos posso ver, que olhos me chamarão atenção, que rostos ganharão vida?
Vejo um e-mail, desses de propaganda, que te enviam sempre que fazes aniversário, seja por teres feito o cadastro, seja porque acessaste a rede de WiFi com teus dados, que um programa de computador te manda no dia do aniversário, chamando para comer, beber ou hospedar-se em algum lugar onde já estiveste, fez me voltar à capa do romance e o ler o título de novo, quase como uma descoberta.
E então, "se eu fechar os olhos agora".....posso voltar ao hotel do e-mail, de nome pomposo - Master Gold - e posso te ver sentada ao pé da cama, os pés sem tocarem o chão, quase colada à janela fechada com uma cortina blackout , jeans, tênis prateado, uma blusa azul da cor de teus olhos, os cabelos com frizz , que até hoje não vi e um quadro.
Meus dedos desenhavam esse quadro e o desenho era perfeito. Os contornos ainda são nítidos, tenho a impressão de ter esse rosto colado em meus dedos "se eu fechar os olhos agora..." mas não, não quero deixá-lo nas teclas desse computador que está sobre minhas pernas, quero deixá-lo em minha memória, em meu espaço privado que se eu precisar e quando eu sentir falta de lembrar-me daquele momento mágico de minha vida, eu simplesmente diga e a voz do vento possa te procurar, onde quer que estejas e te diga: "se eu fechar os olhos agora...." o resto nós já sabemos e o resto é tudo, tudo que vai ficar guardado para mim, "se eu fechar os olhos agora..."
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