quarta-feira, 9 de maio de 2018

A rede

O homem balança devaneios na rede.
Ainda é cedo, menos de meio dia,
mas a rede embala os sonhos
e a rede prende os sonhos.
O homem tem pernas antigas
e olhos de águas passadas.
Embora fatigado do caminho,
o homem respira tempos de vigor.
O mundo é grande e a rede,
pequeno ninho feito de algodão cru,
tece belezas e histórias
trançando em seus fios
o casulo de carinho.
O homem de idade madura
no embalo da rede torna-se pequeno,
menos que um menino.
A rede é útero quente e macio de ternura
onde o homem gesta seus sonhos.
A rede balança de lá para cá
um pé no sonho, outro na realidade.
A rede embala o rei pequenino,
grávida que está do peso robusto
do homem disfarçado em menino,
que sonha no útero emprestado
pelos fios emaranhados
com um sol que lhe arda menos
na cabeça, sem ter a sensação
de tapar o calor do astro
com a peneira de todos os dias.

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