Ai daqueles que não amaram
ou amaram pouco
por medo de quebrar a cara.
Ai daqueles que beberam
apenas meia dose
e perderam o barato
de um copo cheio.
Ai daqueles que foram mesquinhos
sobretudo consigo mesmos
e deixaram de abrir a mão
e selar uma amizade.
Ai daqueles que não gozaram
que fizeram o sexo burocrático
dos casamentos tristes.
Ai daqueles que não viveram
e deixaram para depois
as incertezas da eternidade.
Ai daqueles que se acharam santos
e perderam da humana convivência
o prazer de partilhar as horas.
Mas, acima de tudo:
Ai daqueles que criticaram
nos outros o desejo que tinham
de viver, de amar, de gozar
de beber até a última gota do copo.
Porque deles não haverá nada
a se contar, nem as anedotas
dos vexames, nem a alegria dos amigos.
Porque para eles restou
ver a vida passar
sem graça e besta
dos que não souberam
amar a humana gente.
quinta-feira, 17 de maio de 2018
quarta-feira, 9 de maio de 2018
A rede
O homem balança devaneios na rede.
Ainda é cedo, menos de meio dia,
mas a rede embala os sonhos
e a rede prende os sonhos.
O homem tem pernas antigas
e olhos de águas passadas.
Embora fatigado do caminho,
o homem respira tempos de vigor.
O mundo é grande e a rede,
pequeno ninho feito de algodão cru,
tece belezas e histórias
trançando em seus fios
o casulo de carinho.
O homem de idade madura
no embalo da rede torna-se pequeno,
menos que um menino.
A rede é útero quente e macio de ternura
onde o homem gesta seus sonhos.
A rede balança de lá para cá
um pé no sonho, outro na realidade.
A rede embala o rei pequenino,
grávida que está do peso robusto
do homem disfarçado em menino,
que sonha no útero emprestado
pelos fios emaranhados
com um sol que lhe arda menos
na cabeça, sem ter a sensação
de tapar o calor do astro
com a peneira de todos os dias.
Ainda é cedo, menos de meio dia,
mas a rede embala os sonhos
e a rede prende os sonhos.
O homem tem pernas antigas
e olhos de águas passadas.
Embora fatigado do caminho,
o homem respira tempos de vigor.
O mundo é grande e a rede,
pequeno ninho feito de algodão cru,
tece belezas e histórias
trançando em seus fios
o casulo de carinho.
O homem de idade madura
no embalo da rede torna-se pequeno,
menos que um menino.
A rede é útero quente e macio de ternura
onde o homem gesta seus sonhos.
A rede balança de lá para cá
um pé no sonho, outro na realidade.
A rede embala o rei pequenino,
grávida que está do peso robusto
do homem disfarçado em menino,
que sonha no útero emprestado
pelos fios emaranhados
com um sol que lhe arda menos
na cabeça, sem ter a sensação
de tapar o calor do astro
com a peneira de todos os dias.
terça-feira, 8 de maio de 2018
O vazio
O vazio não se vê
com as mãos não se toca
com a boca não se mata
a fome que o vazio deixa.
O vazio é a ausência
de dor, de tristeza, de alegria.
O vazio é o vazio
e com palavras não se descreve.
O vazio é enorme
e ocupa todo o espaço
que há em meu peito.
O vazio é tudo
e não caibo nele.
O vazio chegou de mansinho
ocupou todos os espaços
sem sombra de ser
ou de reflexos no espelho.
O vazio deixou suas marcas,
mas invisíveis são as marcas
desse vazio mudo, sem corpo.
O vazio ocupou o mundo todo
avizinhou-se dos amigos
encontrou os parentes a fabular
levou os amores, as cores.
O vazio é enorme
e tenho dúvidas se não caibo nele
ou em mim, pois o vazio
ocupou todos os espaços
e o vazio sou eu
a rolar pelo mundo.
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