Diria a princípio que era domingo. Mas, acabo de notar que passaram-se os primeiros vinte minutos da meia noite, portanto, tecnicamente é segunda-feira. O primeiro dia útil da semana. Linguagem capitalista, como se fossem úteis apenas os dias de trabalho. Tenho visto que eles são os mais inúteis de nossas vidas. Afinal, desgastamo-nos e nos agastamos por muitas coisas. Talvez, por isso, inventaram a úlcera nervosa. Para nos lembrar que é dia de semana e é dia útil.
O fato é que estou triste, de uma tristeza inexplicável, daquelas que só surgem à noite, quando o silêncio toma conta da vizinhança e escutamos ao longe algumas cantilenas que cuidam embalar os bebês. Então, desliguei a TV e não fui para cama; vim para a frente do computador, com uma vontade imensa de me deixar aqui na tela, de purgar de mim as dores e as realidades, as verdadeiras e as inventadas.
Queria ter o dom de inventar personagens. Criaria um à minha imagem e semelhança. Mas não sofro da heresia dos autores ou sofro da incapacidade das pessoas comuns. Assim, jogo-me no papel, desculpem, na tela branca do blog que imita o sulfite branco. Até pensei em comprar uma máquina de escrever, daquelas de quando eu tinha 11 anos e fui aprender datilografia na escola. Tenho o diploma ainda e a saudade de compor à moda antiga um conto que ficaram naquelas teclas. Lembro que a filha da professora, para meus padrões da época, era bonita e valia o fim da aula, quando ela buscava a mãe.
Mas, afinal, por que escrevo? O que há em mim que me força a digitar essa conversa fiada? É a falta de sono? A incapacidade de fazer uma oração? O que quero? Tirar a dor? Inventar uma? Fingir que não me importo com o que as pessoas dizem de mim? Ou ter necessidade de falar delas? Há, sim, uma ânsia de abraçar o mundo, mas tenho apenas duas mãos e está bem longe o sentimento do mundo. Queria ser apenas eu, livre, leve, sem as preocupações de pôr ordem no mundo. Gostaria de ser afeito à desordem.
Escrevo porque é uma forma de matar. Sim. Uma forma de cometer um assassinato. Pensando bem, uma forma de suicídio autoral. Mata-se um pouco cada vez que um texto vai à folha. É como ser uma árvore em manhã de outono e ver suas folhas buscarem o chão, cansadas de sonhar que estavam. Até as árvores se entregam, por que não posso ir à lona alguma vez? Ao menos admito que a vida não é uma luta que se ganha de nocaute, é round a round, ponto a ponto e nem sempre o final nos é favorável.
Porém, como saí das árvores e caí no ring? Essa mania de uma conversa puxa outra, como papo de bar, leva a esses efeitos morais das considerações sobre a vida. Enfim, o texto é meu e enfio nele o que quiser, posso ocupar-me da liberdade da página sem pedir licenças, aqui ainda posso ser livre. O leitor não precisa perder tempo, os canais fechados estão cheios de adaptações de Nicolas Sparks e atendem ao desejo de felicidade de milhares de pessoas. A frouxa e alegre vida de amores e encantos que lotam as salas de psicólogos e de psiquiatras ao final da sessão de cinema.
Boa noite, não vou dormir, mas essas conversa já excedeu as linhas que valiam. Por isso, encerro aqui essa conversa fiada, de fim de noite. Quem venha a segunda-feira e com ela todas as inutilidades dos dias úteis.