quinta-feira, 26 de março de 2015

Há flores tatuadas em teu corpo
esse jardim das delícias
regado por minhas palavras
que se derramam chovendo
e lavando teus poros sedentos
da água sedutora dos meus lábios.
Há palavras antigas, dionisíacas
que desejam a tragédia 
do encontro de nossos corpos.
Este fim inevitável, este gozo retardado
em que adia o inevitável adeus
traçado pelos oráculos que profetizam
sobre meu primeiro choro a solidão
do meu corpo envenenolhecido.
Por isso conheço ao encontro de nosso corpos
o divórcio intransigente do corpo que desposei.
E choro a terra fria, cobertor final,
daquele que parte só na solidão
do ventre que não aceita a desculpa do tolos
apaixonados que creram, contra a fatalidade,
na existência das almas gêmeas. 

sábado, 21 de março de 2015

Posses

Quando criança [...]
meu carrinho
meu pai, minha mãe,
meu imperturbável irmão.
Não perdi ainda essa louca
mania de me dar às posses.
E todos os dias quero
algo para chamar de meu,
de minha; posse inevitável
do ser ao qual exigimos Amor.
Antes de te amar, infelizmente,
me fiz amigo do possessivo minha
e só te tive por posse, terreno privado,
sem atender à doação do Amor.
E se não atentei a teu Amor
essa coisa leve e Sublime
é porque antes te tive por minha
sem saber que também me possuías.

Porto

Com a mente ancorada em teu corpo
audazes desejos são desfraldados.
Nessa marola morna de tuas maciezas
adio minhas partidas, cedo a mais
algumas carícias de tuas águas ocultas,
e faço do porto casa, esse local de encontros
desencontros e despedidas inevitáveis.

quinta-feira, 12 de março de 2015

Os corpos balançavam na rede
embalando você e eu
em reticências enormes.
"Entre você e eu havia uma
oposição em balanço:
- eu sou seu ou você é minha?"
Sem resposta, despeitados ambos
embalavam cada qual o seu sonho
nessa rede ampla, estreita para os dois.
" - Não serei mais seu, não mais será minha
aqui está a sua rede, estoutra é minha.
Cada qual agora balança sua rede."
Hoje ambos balançam na rede
para lá e para cá, de cá pra lá
e choram sozinhos, embalados
pela rede que não para, de cá pra lá
de lá pra cá embalde na solidão.

Alerta!
Pisca-alerta!
Perigo!
Pisca-pisca
Pega, aperta,
persegue, mata.
Foge pra mata
Rápido, ultrapassa
passa o sinal
vermelho do
trânsito fechado
e pode ser achado
na mata, morto
exausto da fuga.
Liberto da culpa
do corpo e da vida.

segunda-feira, 9 de março de 2015

De que lado gira o girassol?
Para que lado gira o sol?
Sol e girassol girando em harmonia
música muda de luz e calor
nos giros do sol que seduz.
O loiro girassol noivo
fiel, de olhar único
torcicolarmente preso ao sol
girassol que gira com o sol
girassol amante diurno
desfalecido e cabisbaixo
no velório noturno que
enterrou seu noivo sol.

Fetiche

Fetiche é feitiço
feito na porta
na soleira 
do batente
na encruzilhada
do crente.
Corta calado
as entranhas
é surra
de navalha
na procissão
de semana santa.
É gozo calado,
trancado
preso de vontade
na garganta.
É confessar
o inconfessável
é dar-se ao algoz
por simples desejo.
Fetiche é coisa feita
é macumba de deleite
que retumba nos tambores
plenos de corpo e azeite,

domingo, 8 de março de 2015

Paródia

Eu quero a Democracia
onde está a Democracia?
Ela ia nua e macia
perdida entre os algozes.
Eu quero a Democracia
me disseram que eu
vivia num país livre
onde podia falar
mas quiseram me calar.
Eu quero a Democracia,
pura ou degradada até
a última baixeza.
Meu amigos, meus inimigos
onde está a Democracia?
Diga que sou um cidadão livre
que ela pode voltar
que eu cantarei palavras doces
de um lirismo libertário,
que ela jamais inspirou.
Eu quero a Democracia
eu quero a Estrela da manhã
pura ou degradada
deitada com a direita ou com a esquerda
diga que sou um cidadão livre
e que mesmo assim a amarei
e farei versos de uma ternura tão simples
que ela - a Democracia - desfalecerá.
Eu quero a Democracia, a minha eterna
Estrela da Manhã.

Espero que Manuel Bandeira me perdoe a intromissão [...]
A propósito da greve das Universidades do Paraná em 2015.

sábado, 7 de março de 2015

Tens pernas lindas de descaminhos,
mas quais caminhos são seguros?

Caminhante e caminhada se confundem,
rotas deslizantes, rumos incertos,
desejos infinitos na estrada a se desenhar.

Pergunte aos transeuntes, aos que ficam
na beira do caminho sentados também
alguém deve ser o portador da reposta
e estenderá o braço apontando o caminho.

Mas não me deixe ser caminho,
não me deixe iludido em seus descaminhos,
nas suas pernas que não me levam a nada.

São minhas pernas que me carregam
por esses caminhos desencaminhados
que me constituem a vida em seus enlaces.



quinta-feira, 5 de março de 2015

Com cunha
cunhei em
teu corpo
meu nome.
Alcunha 
de mim,
perdeste
a ti.

Cunhar
tua pele
fender
como cunha
teu ser.

Cunhei
meu sexo
no teu sexo
cunha
fendida
no arco
do meu
corpo.

quarta-feira, 4 de março de 2015

Minha voz silenciou
em um momento de
amargura e incompreensão.
Antes o grito vinha
da dor da revolta,
agora o silêncio morre
trancafiado no guarda-roupa
do meu peito vazio.
A escuridão e a cegueira
desesperam como aqueles
que não têm voz e precisam gritar.
A impotência do grito rouco
desaba sobre minha cabeça
e entrego os pontos certo de
que não sou nem fui o primeiro
a abandonar a batalha
insana dos inconformados.
 

  A poesia é essa água que escorre pela boca e d esce pelas bordas  rompendo a barreira dos lábios. Diz e não diz f abula mundos intangív...