Sim. Eu preciso de um corpo
para concretizar o desejo.
E tu és esta mágica insana
a rebolar sobre mim.
Nada pede o espírito
quando o corpo tudo sufoca.
Tenho-te como a estas pedras
sobre quem o mar arrebenta
em suas fortes ondas.
Sempre pensei o amor
como um soco no estômago
que remoeria dentro de mim
as entranhas a ponto de se desfazer.
Hoje não sei direito o que é o amor,
será que ele pode ser sutil como uma flor?
Será que o tenho entre as mãos
e o sufoco com a um pássaro que quebrou a asa?
O que é o amor senão esta dor
que ora vem em ondas a me afogar.
Olho a foto e meço com o olhar
a distância entre nossos corpos,
eles são feitos de matéria
um está fixado no tempo
e outro vive a dor da ausência
separados estão por um palmo de nariz
e ali tão presente sentada
estás tão longe que eu não posso tocar-te
com as pontas de meus dedos.
O retrato ri ironicamente de mim
e eu choro a distância de uma foto.
As ruas com seus gestos
acenam às pessoas
indiferentes a seu asfalto.
Nelas circulam o medo
do encontro inevitável
com a alma gêmea
e com o bandido
que levará carteira, anéis e alma.
A rua sempre está nua
não vemos a rua, vemos as pessoas.
Há ruas famosas, desconhecidas
que lembram alguém em suas placas.
A ruas cortam a alma das cidades
e levam sem rumo ao inesperado destino.
Este não é um poema,
é um texto em versos,
não resolverá tua vida
nem trará iluminação
aos teus obscuros pensamentos.
Este não é um poema,
não encherá a barriga
de quem passa fome
nem mudará os governos.
São versos que deslizam pela folha
e em troca de tua leitura
nada te oferecem a não ser palavras.
Mas, este pode ser um poema
e está confundindo teus pensamentos,
ainda assim não te dará pão
nem emprego, nem a vida que queres.
Este é um poema e um poema
vive só das palavras que é feito.
A poesia é essa água que escorre pela boca e d esce pelas bordas rompendo a barreira dos lábios. Diz e não diz f abula mundos intangív...