sábado, 19 de junho de 2021

Sim. Eu preciso de um corpo

para concretizar o desejo.

E tu és esta mágica insana

a rebolar sobre mim.

Nada pede o espírito

quando o corpo tudo sufoca.

Tenho-te como a estas pedras

sobre quem o mar arrebenta

em suas fortes ondas.

 Sempre pensei o amor

como um soco no estômago

que remoeria dentro de mim

as entranhas a ponto de se desfazer.

Hoje não sei direito o que é o amor,

será que ele pode ser sutil como uma flor?

Será que o tenho entre as mãos

e o sufoco com a um pássaro que quebrou a asa?

O que é o amor senão esta dor

que ora vem em ondas a me afogar.

Olho a foto e meço com o olhar

a distância entre nossos corpos,

eles são feitos de matéria

um está fixado no tempo

e outro vive a dor da ausência

separados estão por um palmo de nariz

e ali tão presente sentada

estás tão longe que eu não posso tocar-te

com as pontas de meus dedos.

O retrato ri ironicamente de mim

e eu choro a distância de uma foto.

sexta-feira, 18 de junho de 2021

 Doce é o afago

e leve é a sombra que me trazes

como em um dia de sol.

Matas-me a sede

desta tua pele quente.

Ressecas-me os lábios

como o vento seco do inverno.

Mesmo assim me dizes o que fazer

e eu, louco, obedeço com um sorriso. 

Vou para minha amante

com a corda no pescoço.

Sinto nas costas o peso do cordeiro

que leve branco se imola como vítima.

Será que todos amantes sentem este peso?

Será que todos se imolam no altar do prazer?


As ruas

As ruas com seus gestos

acenam às pessoas

indiferentes a seu asfalto.

Nelas circulam o medo

do encontro inevitável

com a alma gêmea

e com o bandido

que levará carteira, anéis e alma.

A rua sempre está nua

não vemos a rua, vemos as pessoas.

Há ruas famosas, desconhecidas

que lembram alguém em suas placas.

A ruas cortam a alma das cidades

e levam sem rumo ao inesperado destino. 

quarta-feira, 16 de junho de 2021

 Este não é um poema,

é um texto em versos,

não resolverá tua vida

nem trará iluminação

aos teus obscuros pensamentos.

Este não é um poema,

não encherá a barriga

de quem passa fome

nem mudará os governos.

São versos que deslizam pela folha

e em troca de tua leitura

nada te oferecem a não ser palavras.

Mas, este pode ser um poema

e está confundindo teus pensamentos,

ainda assim não te dará pão

nem emprego, nem a vida que queres.

Este é um poema e um poema

vive só das palavras que é feito.

 Procuro no meu rosto marcas

de alguém que parou no meio do caminho.

Um pouco para lá, um pouco para cá

nem a juventude dos vinte anos

nem a velhice dos sessenta,

só os anos que trouxeram marcas

ainda indefinidas de uma estrada a percorrer.

Assim, sigo em frente

como quem rascunha a inacabada obra.

 Ando pelas ruas

disperso o olhar

em busca da inominável poesia,

em busca do inominável Deus

que nos abandonou

à nossa própria sorte.

Vejo pernas, rostos e expressões

da mesma humana dor

diante da incerteza do amanhã. 

 Estou preso a uma janela

aberta no tempo da memória,

reviro páginas, abro livros,

bebo águas antigas

e estão salobres.

Rebusco sensações

e só encontro ausências.

Teu rosto exala sabores de maçã

sobe-me um prazer estranho pela garganta

difícil de definir em seus êxtases.

Desço à rua e olho as flores

há pessoas pelas calçadas

e um rosto me chama a atenção,

talvez por me lembrar tuas faces de maçã,

talvez por lembrar aquele prazer

tão difícil de dizer.  

  A poesia é essa água que escorre pela boca e d esce pelas bordas  rompendo a barreira dos lábios. Diz e não diz f abula mundos intangív...