Olho para as coisas e elas estão mudas
Há confissões detrás da cama, perdidas atrás do sofá
há solidões guardadas dentro das gavetas
há palavras jamais pronunciadas
que morreram na garganta antes de ser.
Meu Deus, onde está a poesia, o encanto?
Vejo boletos chegando, contas a pagar
afazeres domésticos a me distrair.
Uma criança grita no fundo do corredor
e há tanta vida neste gesto
que não sei como agir diante do mundo
criado pelo sorriso e pelo encanto da infância.
Os homens estão mudos e olham para baixo,
perderam as esperanças e as forças para reagir,
caminham para o nada diante de si.
Como abrir a porta? Como beijar a mulher
e os filhos ao entardecer.
Não trago nada em minhas mãos
e mesmo assim são felizes em me rever,
justo eu que não suporto olhar-me
que não sustento o olhar do Outro
a me enfrentar no espelho.
É noite e não sei o que fazer com o dia de amanhã
há tanto peso sobre meus ombros
há tantas culpas que desconheço,
mas sigo assim mesmo para cama
sem solução para o conflito que deixei sobre a mesa.
Sou o homem respondendo à voz paterna:
"do seja homem, não chores",
sem saber bem o que isso significa.
A carteira de identidade diz ser eu
o homem da foto, nascido há exatos 41 anos.
O que dizer se ainda procuro o menino
sobre o pé de limão no fundo do quintal?
O que fizeram com o menino que fui?
Ainda procuro-o em meu rosto
perdido em algum canto do universo.
Não sei quando herdei a patente de homem
só percebo que os móveis me entendem,
pois deixaram de ser madeira, tronco, raízes
e foram encarcerados em formas domésticas.
Acho que é isso: o menino que há em mim
reclama do homem que me tornei
domesticado pelas obrigações, pelo trabalho
pela imagem que deram a mim.
os móveis calados guardam memórias
de conversas, de mãos, de ideias.
de conversas, de mãos, de ideias.
Há confissões detrás da cama, perdidas atrás do sofá
há solidões guardadas dentro das gavetas
há palavras jamais pronunciadas
que morreram na garganta antes de ser.
Meu Deus, onde está a poesia, o encanto?
Vejo boletos chegando, contas a pagar
afazeres domésticos a me distrair.
Uma criança grita no fundo do corredor
e há tanta vida neste gesto
que não sei como agir diante do mundo
criado pelo sorriso e pelo encanto da infância.
Os homens estão mudos e olham para baixo,
perderam as esperanças e as forças para reagir,
caminham para o nada diante de si.
Como abrir a porta? Como beijar a mulher
e os filhos ao entardecer.
Não trago nada em minhas mãos
e mesmo assim são felizes em me rever,
justo eu que não suporto olhar-me
que não sustento o olhar do Outro
a me enfrentar no espelho.
É noite e não sei o que fazer com o dia de amanhã
há tanto peso sobre meus ombros
há tantas culpas que desconheço,
mas sigo assim mesmo para cama
sem solução para o conflito que deixei sobre a mesa.
Sou o homem respondendo à voz paterna:
"do seja homem, não chores",
sem saber bem o que isso significa.
A carteira de identidade diz ser eu
o homem da foto, nascido há exatos 41 anos.
O que dizer se ainda procuro o menino
sobre o pé de limão no fundo do quintal?
O que fizeram com o menino que fui?
Ainda procuro-o em meu rosto
perdido em algum canto do universo.
Não sei quando herdei a patente de homem
só percebo que os móveis me entendem,
pois deixaram de ser madeira, tronco, raízes
e foram encarcerados em formas domésticas.
Acho que é isso: o menino que há em mim
reclama do homem que me tornei
domesticado pelas obrigações, pelo trabalho
pela imagem que deram a mim.
Um comentário:
As crianças - lá do fundo -desaparecem quando nos tornamos adultos; atrás das dores... E a sua essência somente é completamente retomada por meio da ARTE e do AMOR. A vida adulta, infelizmente, é assim: enfrentamentos e dores, mas também nos trás grande sabedoria. Gosto muito desse tipo de texto: os mais profundos. Abraços!
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